Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Capitães Asiáticos da Indústria

25 de janeiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Empresas | Tags: amigo do Brasil, Capitães de Indústria, Carajás, empresários, Ishibrás, Itaipu | 2 Comentários »

Em qualquer economia, um fator fundamental para promover o desenvolvimento são os grandes empresários, que costumam ser chamados de “capitães de indústria”. No Japão, um se destacou como grande amigo do Brasil e foi primordial para o estabelecimento de um intercâmbio bilateral vigoroso. Chamava-se Toshiwo Doko e quando faleceu tinha a condecoração máxima de 27 países, inclusive o Cruzeiro do Sul no grau mais elevado.

Apesar de sua grande importância, era um homem simples, mas excepcional, com um comportamento pessoal que despertava a mais merecida admiração de todos que tiveram o privilégio de conviver com esta personalidade. Escovava o chão de sua casa e não permitia que o motorista o apanhasse quando ia trabalhar aos sábados, utilizando o metrô.

Todos os seus honorários eram religiosamente entregues, integralmente, para a sua esposa, que os destinavam aos trabalhos de uma escola que dirigia para pessoas com necessidades especiais. Em sua homenagem, a semente básica de soja desenvolvida pela Embrapa leva o seu nome, a variedade “Doko”.

Ele foi presidente da Ishikawajima-Harima, e foi também designado presidente para recuperar a Toshiba quanto esta enfrentava dificuldades. Chegou a presidente do Keidanren – a poderosa Federação das Organizações Econômicas do Japão. Forjado no espírito da Era Meiji, formou-se pela Universidade de Tóquio. Seu primeiro trabalho, ainda em 1914, foi a instalação de uma usina hidroelétrica na Coreia.

No Brasil, ajudou na viabilização da Usiminas e, quando o presidente Juscelino Kubistschek lançou o Plano de Metas, instalou os estaleiros da Ishibrás, com capacidade para lançar anualmente mais de 1 milhão de TDW de navios, um projeto inédito no mundo, que o Brasil não foi capaz de preservar. Durante os conturbados anos que se seguiram à renúncia de Jânio Quadros, ajudou a manter o entendimento da Companhia Vale do Rio Doce com as siderúrgicas japonesas. Seu último trabalho, depois de dezenas de viagens pelo Brasil, foi ajudar a viabilizar o Projeto Carajás.

Quando ele participava de uma missão do Keidanren, que visitava a construção da Transamazônica, fui despertado de madrugada no acampamento em que estávamos, com seus auxiliares alvoroçados, pois ele tinha desaparecido. Fomos encontrá-lo no alto de uma gigantesca árvore, esperando o alvorecer na floresta amazônica.

Levei-o para uma visita ao projeto Itaipu, quando ainda estava em construção. Ele fez questão de percorrer toda a obra, examinando os seus detalhes. Ele, que conhecia todas as grandes hidroelétricas do mundo, deixou registrado no livro de visitantes: “Parabéns à engenharia brasileira, é a melhor tecnologia que vi em todo o mundo”.

Doko foi o meu “guru” sobre a Ásia e a vida. Sempre que visitava o Brasil, eu tive o privilégio de acompanhá-lo. Apesar de muito importante e atarefado, sempre que visitei o Japão ele me concedeu um tempo para me ensinar as lições mais valiosas que recebi. Ensinou-me uma coisa que não me ajudou: “Paulo, trabalhe, trabalhe, não pense em dinheiro, pois o mínimo para comer sempre surgirá de algum lugar”. Continuo só remediado…

Segredou-me que gostaria de ser enterrado no Brasil, o que não foi possível. Precisamos de empresários do seu quilate.


2 Comentários para “Capitães Asiáticos da Indústria”

  1. Frank Honjo
    1  escreveu às 07:40 em 26 de janeiro de 2010:

    Sr. Paulo Yokota.

    Estou acompanhando o vosso blog.

    Como o mundo nessa era digital, ajuda a mantermos contatos e lendo histórias de pessoas de mentes excepcionais, e ajuda enxergar o mundo com "lentes" diferentes.

    Abraços

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 08:52 em 4 de fevereiro de 2010:

    Caro Frank Honjo, desculpe-me por uma resposta tardia. Estamos nos estruturando para dar maior atenção aos comentários, com respostas rápidas. Felizmente, os comentários estão aumentando, e peço compreender que escrever a quantidade de artigos atualizados exigem um grande esforço. Vamos aperfeiçoar. Paulo Yokota