O Que Está Acontecendo Com a Toyota
29 de janeiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Empresas | Tags: automóveis, operações no exterior, teares, tecnologia própria, Toyota
Muitos no mundo se perguntam o que estaria acontecendo com a Toyota. Não é uma questão simples e não parece haver uma única resposta. Mas algumas de suas características precisam ser consideradas.
Os aspectos que serão indicados só servem de meras sugestões para aspectos que devem ser examinados com maior profundidade, pois é uma grande e tradicional organização, respeitável sob todos os aspectos.
Como todos sabem, a Toyota nasceu como uma indústria de teares e outros equipamentos para a indústria têxtil japonesa, com base familiar. Muitos dos seus eminentes dirigentes foram capazes de mobilizar o quadro de seus funcionários, que contribuíram para o seu desenvolvimento, fornecendo milhares de pequenas sugestões que foram aprimorando seus processos operacionais. Ingressaram nas atividades automobilísticas conseguindo modelos robustos, que necessitavam de menos manutenção. Tinham muito orgulho de sua cultura empresarial, e estavam pouco abertos às contribuições externas ou de outras empresas.
Os brasileiros se lembram de que, quando chegaram ao Brasil dentro do Plano de Metas, eles cometeram erros que foram admitidos pelos seus próprios dirigentes técnicos. Produziram um robusto tipo de “jeep”, que trouxeram do Japão e fabricaram por muito tempo, invejados, utilizando motores diesel de outra procedência. Quando perguntei, numa conversa informal com um dos seus altos dirigentes técnicos, por que seus modelos não evoluíam no Brasil, ele foi franco e me perguntou: quem é capaz de criar um automóvel com o “coração” dos outros? O motor era de procedência da indústria alemã, pois não se dispunham a produzir os seus próprios.
O sucesso da Toyota no mundo ocorreu pela qualidade do seu carro sempre robusto e do “after service”, mas reproduziram as mesmas técnicas industriais desenvolvidas internamente, dentro da própria empresa no Japão, quando passaram a produzir no exterior. Quem ousava criticar o que faziam?
Quando tivemos uma discussão no Japão sobre a possibilidade de utilizar a gasolina misturada com etanol, eles descartaram imediatamente a idéia, dizendo que tinham as próprias técnicas. Diziam que os modelos e a frota de carros que dispunham em todo o mundo necessitariam de volumosas adaptações, pois o etanol produziria uma corrosão em algumas de suas peças, exigindo uma “tropicalização” dos seus modelos. Informaram que necessitariam de volumosas pesquisas que não estavam dispostos a fazer.
Argumentei, numa conversa paralela, que eles já faziam a manutenção eletrônica, inclusive nos modelos Toyota importados pelo Brasil do exterior, e tinham provas de que a gasolina brasileira, que misturava etanol, não causava danos, com provas levantadas da realidade e não de pistas de testes. Segredou-me um técnico que sabiam muito bem de tudo isto, mas não podiam contrariar os dirigentes.
É evidente que a Toyota tem capacidade para superar as dificuldades pelas quais passam, o que certamente farão, mas não custa ouvir um pouco as experiências que foram acumuladas fora de sua organização, pois não são os únicos no mundo. A atitude japonesa de produzir um bom produto e esperar que os consumidores o comprem parece superada. Perguntar aos consumidores o que desejam, não parece ser uma idéia absurda.