Consenso de Washington X Consenso de Pequim
7 de fevereiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: consensos, correspondente em Pequim, Raul Juste Lores
O competente correspondente da Folha de S. Paulo em Pequim (que prefiro chamar de Beijing, como muitos mundo afora), levanta a questão de a China obter um razoável sucesso na superação da atual crise econômica mundial, enquanto os Estados Unidos ainda amargam dificuldades. Isto poderia ser interpretado por muitos como uma superioridade de um modelo de política econômica sobre outro, estimulando outros países a copiá-lo e adaptá-lo.
Parece conveniente colocar estas discussões em termos objetivos, fugindo de discussões acadêmicas que exageram nas tipificações de modelos, quando a realidade é muito mais complexa.
Muitos classificaram alguns modelos ocidentais como neoliberais, quando todos acabam tendo alguns desvios, em graus diferentes, do que foi originalmente imaginado. O mesmo parece acontecer com modelos que resultam em maior intervenção governamental nas atividades privadas. O que ocorre no mundo real aparenta ser uma grande faixa cinzenta, que vai do preto ao branco, que por mera conveniência didática destacam-se as suas características mais marcantes.
Mesmo historicamente, do capitalismo mais selvagem foi evoluindo para formas de proteção social dos menos privilegiados, até chegar às formas européias de social democracia. No campo político, verificou-se que nas democracias que nasceram das revoluções francesa e norte-americana sempre havia algumas dificuldades, e os seres humanos acabaram se diferenciando pela sua capacidade econômica, o que é sempre discutível.
Até no comunismo, e muito mais nos socialismos, há uma ampla gama de modelos que vão dos mais radicais até os mais tolerantes, e evoluindo sempre condicionada pela realidade. O que se constata é que os seres humanos, quando melhoram de padrão econômico, acabam aspirando por maior liberdade política, ainda que haja resistências de partidos como os comunistas.
A China com a ampla diversidade étnica, de culturas, terá que se curvar às realidades. Mesmo com um partido único, nem todas as tendências acabam se acomodando à orientação temporariamente predominante. Basta ver o que veio acontecendo deste a Longa Marcha até os dias de hoje, com muitas idas e vindas.
Seria subestimar demasiadamente os dirigentes chineses, imaginar-se que não estão pensando em mecanismos de absorção das tensões naturais que aparecem dentro de uma sociedade muito complexa. Até agora vieram demonstrando que são capazes de pensar e conseguir melhores estratégias de longo prazo quando comparados à maioria dos países ocidentais, em que pesem os muitos aspectos nos quais eles devem ser condenados.