O Homem que Engarrafava Nuvens
1 de fevereiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: Baião, Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga, Nordeste
Este documentário de Lino Ferreira é imperdível para os que desejam conhecer uma parte importante do verdadeiro Brasil, referindo ao trabalho de Humberto Teixeira (1915-1979), principal parceiro de Luiz Gonzaga. O filme foi estimulado pela atriz Denise Dummont, que mora em Nova Iorque, filha do personagem central do documentário, que confessa que pouco o conhecia realmente, e fez as pesquisas para melhor avaliar sua obra e o seu pai.
Nascido na região do Cariri, no Ceará, perto de onde nasceu também Luiz Gonzaga, de quem é parceiro no clássico Asa Branca e a maioria dos baiões cantada por ele, Humberto Teixeira relata que suas raízes estão no seco sertão nordestino, onde ouvia os cantos do folclore regional. Foi para o Rio de Janeiro, expulso por uma das maiores secas que a região sofreu, formou-se advogado e deixou mais de 400 composições que atravessaram as fronteiras brasileiras. Entre elas Kalu, que ficou conhecida pela interpretação de Dalva de Oliveira, e foi composta em homenagem a quem foi uma de suas esposas.
Uma série de suas obras importantes foi interpretada por figuras famosas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethania, Gal Costa e até uma japonesa cantando em sua língua nipônica. Mostra que o baião se tornou um ritmo que chegou ao exterior, principalmente nos Estados Unidos, figurando até num filme italiano.
Mas o mais importante é que o documentário mostra parte deste Nordeste sofrido, com suas feiras e cantadores, alguns cegos. Com toda a sua crua realidade. Como se narra no documentário, eles trabalham, sofrem, mas cantam e dançam, com esperança. Até Asa Branca, que se refere a um quadro triste, era cantada por Luiz Gonzaga com entusiasmo, revelando o feliz dia em que poderia retornar a sua terra natal, depois das chuvas.
Mesmo no Brasil, muitos não conhecem Humberto Teixeira e a sua obra, a quem Luiz Gonzaga foi procurar no Rio de Janeiro para uma grande parceria, para tornar a sua música regional em nacional. Como realmente conseguiram. Humberto Teixeira era o poeta intelectual e Gonzaga, com seu carisma e trajes típicos, fez uma das carreiras mais impressionantes, e a dupla deixou influências sobre grande número de importantes músicos brasileiros, dos mais refinados até os roqueiros.
Mas, acima de tudo, é o baião o ritmo deste interior brasileiro, que empolga desde as pessoas mais humildes até os mais educados formalmente, não só brasileiros, tendo raízes folclóricas. Muitos admitem que o seu ritmo chegou a influenciar músicos reconhecidos internacionalmente em outros gêneros musicais.
Não seria esta batida rítmica uma tendência universal, ajustando-se ao do corpo humano, em toda a sua simplicidade?