Wild Swans: Three daughters of China
2 de fevereiro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: China, gerações, mulheres, revolução cultural
Este é um livro que satisfaz, no primeiro momento, a procura daqueles que buscam informações sobre a China. Neste livro, best seller mundial (Ed. Doubleday – Anchor Boorks, 1991), a professora Jung Chang evoca a história épica de três gerações de mulheres da sua família (inclusive ela própria), que testemunharam e viveram na pele a reviravolta política da China ao longo do século XX.
A avó de Jung Chang, Yu-fang, vendida como concubina para um poderoso general (war-lord) da Polícia de Beijing (Pequim), em 1924, consegue fugir da escravidão com sua filha bebê, Bao Qin De-hong, vivendo mil provações. De-hong (Cisne Selvagem) cresce durante a brutal ocupação japonesa (1931-1945), passando pela sangrenta guerra civil entre nacionalistas do Kuomingtang de Jiang Jieshi (Chang Kai-Check) e comunistas, até a ascensão de Mao Zedong (Mao Tsé- tung). Torna-se militante devotada da causa maoísta e, juntamente com seu marido, atinge posição destacada dentro do Partido Comunista, até ser denunciada, presa, torturada e execrada durante a Revolução Cultural (1966 – 1976).
A própria Jung Chang, engajada aos 14 anos na violenta e vingativa Guarda Vermelha Comunista, marchou, lutou e respirou pelos ideais maoístas, até ser corroída pelas dúvidas suscitadas pelos excessos da política e dos expurgos da Revolução Cultural. Nascidas com algumas décadas de diferença, a vida destas mulheres vai do fim do regime de caudilhos (Senhores da Guerra) pós era imperial dos Manchus, atravessando a derrocada da ocupação japonesa e as terríveis lutas entre nacionalistas e comunistas empenhados em construir uma China autônoma, chegando aos ciclos viciosos dos expurgos cometidos pelo totalitarismo insano, que esmagou a fé e a esperança de milhões de chineses.
A professora Chang faz um corajoso libelo contra o regime ditatorial e, embora seja uma saga épica imbuída de detalhes pessoais e talvez subjetivo-parciais em alguns trechos, o livro nos traz profundos insights sobre a vida, a cultura e a história recentes da China. Narrado em estilo agradável, com paixão, conhecimento e muito afeto. Traduzido para 30 línguas, inclusive o português, no Brasil (Cisnes Selvagens, Três Filhas da China – Companhia das Letras, 1994 e 2003, e Companhia do Bolso, 2006), Wild Swans ainda continua proibido na China Continental, embora tenha sido traduzido para o chinês em Taiwan, China Nacionalista.
Graduada em Letras (Língua Inglesa) pela Universidade de Sichuan, a professora Chang ganhou uma bolsa (1978), já nos anos pré-abertura de Deng Xiaoping – para a Universidade de York, onde obteve PhD em Linguística. Hoje leciona na School of Oriental and African Studies da Universidade de Londres. Só voltou à China algumas vezes para visitar a mãe, e para terminar pesquisas que fez com o marido, o historiador inglês Jon Halliday, para o livro Mao: A história desconhecida – outra obra monumental da autora, junto com o marido, que foi traduzida para o português (Companhia das Letras, 2006).