Debates Sobre a China
29 de março de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: China, país emergente, um debate crescente
Mesmo os mais críticos sobre o regime chinês são confrontados com fatos demonstrando que os debates internos estão aumentando, ainda com resistências importantes, como em todas as sociedades que pretendem ser emergentes.
O correspondente da Folha de S.Paulo, o competente jornalista Raul Juste Lores, publica hoje uma importante entrevista com Yang Yao, diretor do Centro de Pesquisa Econômica da China e vice-reitor da Escola Nacional da Universidade de Pequim. Tem o título “A China não sabe de que lado ficar, diz analista”, e deve ser lida por todos que se interessam pelo que passa no mundo.
Isto é um fato alvissareiro num país com a dimensão chinesa, que ganha importância cada vez maior no mundo e apresenta uma diversidade de opiniões, apesar do sistema de partido único. Fica claro que tendências se digladiam internamente. Disputam para definir o que vai ocorrer no futuro, e que grupo vai acabar dominando.
Como em todas as economias que eram socialistas, as estatais e antigas estatais estão sendo transferidas para o setor privado e ganham importância no cenário nacional, tirando partido de suas dimensões e acessos aos favores oficiais.
É preciso reconhecer que todos os países emergentes alcançam os seus resultados, mas enfrentam uma grande variedade de problemas que devem ser resolvidos ao longo do tempo. Não existe desenvolvimento sem obstáculos a serem vencidos. E na medida em que alguns são resolvidos, surgem outros mais complexos. O importante é que o processo esteja em marcha, com o menor custo social possível.
Certamente, nem todos os dirigentes atuais da China têm uma ampla vivência com o exterior. O mesmo ocorre com outros países emergentes, como o próprio Brasil. Eles refletem as aspirações das populações locais, com todas as suas limitações. O fato concreto é que a China, como o Brasil em escala menor, superou a recente crise mundial, mantendo um razoável ritmo de desenvolvimento, não contando ainda com a desejável e consolidada política externa.
Somos todos “atrapalhões”, mas estamos tentando participar do debate internacional, aumentando a nossa influência. Vendo sob uma perspectiva mais longa, tanto na China como no Brasil, massas enormes foram incorporadas ao mercado, ainda que outras esperem a sua vez. Mesmo com as resistências das elites e até da classe média, o “andar de baixo”, como chama Élio Gaspari, está colocando a cabeça de fora.
Temos problemas, mas estamos tentando resolvê-los, com as limitações a que estamos sujeitos.