Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

José Mindlin

1 de março de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: Comitê Empresarial Brasil-Japão, José Mindlin, Keidanren

Muito vai se falar sobre esta importante personalidade que nos deixou.  Suas múltiplas facetas, como intelectual, bibliófilo, apoiador da cultura, empresário inovador, político nos bastidores.  Eu, que tive o privilégio de conviver um pouco com ele, vou concentrar minha contribuição ao seu trabalho pelo intercâmbio com a Ásia, notadamente o Japão.

José Mindlin foi o incentivador e presidente brasileiro do Comitê Empresarial Brasil-Japão junto com a poderosa Keidanren – Federação das Organizações Econômicas do Japão por um longo tempo.  Fizemos muitas viagens para aquele país e participamos de muitas reuniões aqui no Brasil e no Japão, com os mais importantes empresários de ambos os países.

José Mindlin era pai da Betty Mindlin, que foi minha colega como assistente do professor Delfim Netto na FEA-USP.  O que me permitiu conhecer a fase inicial de formação de sua impressionante biblioteca de obras raras.  Figura afável, estimulava as conversas com os jovens, e como o principal empresário da Metal Leve, consagrou-se no cenário industrial.

Isto o levou a ser um dos dirigentes da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e vice-presidente da CNI – Confederação Nacional das Indústrias.  Era a contrapartida brasileira do Kendanren do Japão e, em que pese não ter um relacionamento direto com aquele país e suas indústrias, José Mindlin desempenhou um papel fundamental para a consolidação do intercâmbio bilateral.  E no aumento das exportações brasileiras.

Ajudou a provocar o fenômeno conhecido como “Brazil Boom”, quando milhares de empresários japoneses procuravam oportunidade de investimentos no Brasil, quando ainda não existia a expressão BRIC.  E concretizaram investimentos ainda nos anos 70 do século passado e ainda sustentam o intercâmbio bilateral, depois de muitas décadas.

Paciente, diplomático, ajudou com todo o seu empenho e sinceridade conquistar a consideração dos empresários japoneses pelo Brasil.  Os japoneses ficavam impressionados como um empresário que tinha mais relacionamentos com outros países, de origem judaica, empenhava-se tanto no intercâmbio com o Japão.   Sua visão global e de longo prazo tinha muito a ver com a visão japonesa.

Permita-me recordar, também, sua capacidade de diálogo político com todos os segmentos.  Foi quem sondou o ministro Delfim Netto sobre a conveniência da criação da CEBRAP no período do regime autoritário, recebendo o pleno apoio para a iniciativa.

Vamos sentir sua falta nos muitos concertos de música clássica que frequentávamos juntos, mesmo quando já tinha dificuldades visuais e de locomoção.