Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll
20 de abril de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: através do espelho, Inglaterra vitoriana, nonsense surrealista | 4 Comentários »
Edição comentada por Martin Gardner, Jorge Zahar Editor, 2002.
Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), que adotaria o pseudônimo de Lewis Carroll, era um tímido e excêntrico professor no Christ Church College em Oxford, onde era respeitado por alguns tratados de lógica matemática que escrevera. Mas celebrizou-se com o livro de Alice, que se tornaria obra clássica da literatura inglesa, introduzindo um gênero literário que iria florescer bem mais tarde, o realismo fantástico.
Carroll compilou em dois livros (Alice no país das maravilhas e Através do Espelho) as histórias que ele contava para suas amiguinhas meninas em passeios de barco pela bucólica paisagem da Oxford vitoriana.
A história é uma espécie de sonho surrealista, muito complicada, escrita para leitores ingleses do século XIX, cheia de trocadilhos, sátiras, charadas, costumes, que só poderiam ser compreendidas ou interpretadas por quem da época ou que pertencia ao círculo de Oxford. Para que as muitas citações, referências e jogos pudessem ser mais facilmente entendidos, Martin Gardner desenvolveu a edição comentada, para adultos. Para as crianças, a atmosfera de pesadelo dos sonhos de Alice e as ilustrações de John Tenniel (de 1865) causavam e causam aturdimento e até pavor.
Podemos dizer que os livros de Alice têm sua imortalidade garantida pelo interesse que despertam a estudantes avançados de literatura inglesa, matemáticos, cientistas, e especialmente a um círculo de milhares de “cultores” de Alice. Pertencentes a clubes pelo mundo inteiro (um dos mais ativos, em Tóquio), exatamente como nos moldes dos clubes de fanáticos por Finnegans Wake, de James Joyce – outro livro cheio de significados ocultos. Como há também clubes de fãs absolutos de obras de Shimasaki Tohson, Mishima, Proust, e sem fim, que se comunicam entre si por calorosas correspondências e trocas de ideias.
Para esses admiradores de Lewis Carroll, os livros de Alice suscitam um sem número de interpretações simbólico-metafóricas. Milhares de ensaios, dissertações e tratados literários já foram escritos à luz da sátira, metafísica, política, filosofia, psicologia, e da psicanálise, após o advento de Freud. A interpretação mais básica, repetida e de fácil aceitação, é a de que a história representa um rito de passagem. A adolescência, com uma entrada súbita (a queda na toca do coelho) seguida de mudanças físicas e a desorientação que isso causa em Alice, a ponto de ela não saber mais quem é após tantas transformações (explicada pela psicologia do adolescente).
Apesar das centenas de especulações, não há evidências sólidas da existência de significados ocultos em algumas das intrincadas descobertas feitas, nem de que Carroll tenha colocado tais fatos conscientemente.
Em artigo publicado no dia 18 de abril último no Caderno MAIS, da Folha de S.Paulo, o médico-escritor Moacyr Scliar apresenta importantes observações que vêm enriquecer os estudos sobre Alice. Scliar analisa a vida e a obra de Lewis Carroll sob a luz da patologia clínica: desde as suspeitas que recaíam, sobre o autor, de pedofilia, às alucinações que poderiam ter sido provocadas por raros efeitos de enxaqueca (macropsia/micropsia: a visão de objetos subitamente aumentados ou diminuídos em tamanho), de que talvez Dodgson sofresse, como o poeta João Cabral de Melo Neto sofrera, segundo Scliar. Ou talvez o autor de Alice tivesse crises de epilepsia do lobo temporal, que também podem provocar tais sintomas, mal que afligia Machado de Assis, como evidencia relatos de delírio alucinatório em Memórias Póstumas de Brás Cubas.
É uma tese bastante interessante. São esclarecimentos que se somam para explicar uma história que, examinada racionalmente por leigos, parece um nonsense disparatado inventado por um matemático maluco. No fim, Alice é um caso peculiar de livro escrito para crianças, para adultos curtirem.
Para consolo das nossas crianças, há milhares de excelentes adaptações de Alice, com belas e atraentes ilustrações à prova de traumas. E, através do século, sempre houve (e haverá) desenhos animados, musicais, peças teatrais, ou filmes incríveis, adaptados, capazes de imortalizar Alice no imaginário onírico das crianças. E dos adultos, por que não?
Temos lido seus comentários, sempre, com muito interesse. Esperamos suas impressões sôbre este filme. Abraços
Obrigada pelas palavras, Taiko:
Filmes quase sempre frustram expectativas de leitores, mas … veremos.
Para mim essa é uma obra atraente que atravessaram gerações.
Caro Iorenna,
Obrigado pelo comentário. Acho que todos concordam que é um dos clássicos mundiais da literaturaa infantil.
Paulo Yokota