Elevação da Taxas de Juros no Brasil
30 de abril de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: Banco Central, decisões de política econômica, dificuldades
Muitos estranham a decisão das autoridades monetárias brasileiras elevando a taxa de juros num momento tão controvertido como pelo que se passa na economia mundial. Apesar de se constatar que as pressões inflacionárias estão ocorrendo, o que se discute é se o remédio adotado conduz aos objetivos perseguidos. Parece o jogador de futebol que, chegando atrasado num lance, acaba cometendo uma falta.
O grande drama das autoridades brasileiras é que elas se apegam a uma das missões fundamentáveis que lhes foram atribuídas, como se perseguir as metas estabelecidas para a inflação fosse a única coisa relevante e a alternativa disponível fosse o aperto monetário.
Parece fácil compreender, mesmo para quem não é especialista, que a inflação é um processo de aumento contínuo de preços, que decorre de uma série de razões. Se as chuvas são excessivas, os preços das hortaliças sobrem por insuficiência de oferta, mas os preços delas não vão baixar porque os juros subiram. Se todos estão consumindo mais do que o crescimento da produção, utilizando créditos abundantes, os preços tendem a subir. Mas será que os preços mais elevados não vão estimular produções adicionais?
Por incrível que pareça, o aumento de investimentos também podem provocar a inflação, pois sempre existem defasagens até que a produção ocorra. Exportações, que sempre são consideradas positivas, pois ajudam a criar empregos e gerar divisas para pagar as importações necessárias, também podem gerar inflações. Os exemplos que podem ser arrolados são muitos.
Todas as medidas de política econômica não proporcionam resultados imediatos, mas seus efeitos se prolongam ao longo do tempo. E tudo isto gera controvérsias, pois não são mecânicas.
Mas parece haver um consenso que elevações de juros provocam o decréscimo de alguns consumos, desestímulos aos investimentos, reduções de emprego. E provocam outro grande inconveniente, atraem recursos especulativos do exterior que procuram se beneficiar dos juros pagos pelos brasileiros, enquanto no exterior não conseguem obter resultados positivos.
Isto acaba provocando a desvalorização do câmbio, que inibe as exportações, estimulam as importações, criam empregos no exterior e inibem empregos no Brasil. São coisas complicadas. Mas os juros altos beneficiam os que aplicam os seus ativos financeiros e punem os que precisam de crédito. O setor financeiro agradece.
Fazendo um balanço rápido das vantagens e desvantagens, parece que os juros acabam prejudicando mais os brasileiros do que os beneficiando. Principalmente se outras medidas podem ser tomadas para a redução das pressões inflacionárias, como a redução dos gastos do governo, e redução de suas despesas.
Tudo parece muito complexo, e a solução mais fácil parece ser o aumento dos juros, pois os mais prejudicados são os outros, não o setor financeiro. É por isto que, em muitos países, decisões como estas não dependem somente dos diretores do Banco Central, mesmo que a autonomia do órgão seja respeitada, sem interferência política.