Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Evoluções do Bairro Oriental de São Paulo

18 de abril de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: bairro da Liberdade, chineses, coreanos, japoneses | 10 Comentários »

liberdade

Foto: Flaviana Serafim e Gladstone Barreto – abril/2009

O bairro da Liberdade em São Paulo foi onde se fixaram inicialmente os primeiros imigrantes japoneses no começo do século passado. Seguiam os passos de imigrantes mais antigos, como os italianos, que se concentraram no Brás, na Mooca e no Cambuci. Para efeito turístico, ficou conhecido inicialmente como bairro japonês, hoje ampliado para oriental.

Depois da Segunda Guerra Mundial, lojas de japoneses se multiplicaram pelo bairro, que atraíam também atividades de lazer, como os cinemas. Continua sendo frequentado pelos japoneses e seus descendentes, mas chegaram os coreanos com suas lojas, e mais recentemente os chineses. Todos convivendo muito bem com os demais brasileiros de muitas origens. Poucos são os idosos que ainda preservam diferenças culturais.

É interessante que os coreanos e chineses possuem uma maior habilidade de comércio. Hoje, a grande maioria dos proprietários das lojas é chinesa, tendo passado pelos coreanos que encontraram seus nichos em atividades relacionados com as confecções, inicialmente nos bairros como o Bom Retiro, que era intensamente ocupado pelos imigrantes de origem judaica. Hoje, eles estão espalhados por São Paulo, em qualquer bairro que os consumidores frequentam.

Os clientes do bairro da Liberdade continuam a ser os descendentes de japoneses e outros que procuram produtos orientais. As lojas dos chineses costumam usar muitos funcionários que entendem um pouco do idioma japonês.

Mas, aos poucos, nota-se que mesmo a clientela das lojas e dos muitos restaurantes do bairro passa por alterações. Aumentou os chineses que moram no bairro e na sua redondeza, e seus descendentes figuram entre os consumidores, sendo difícil para os não orientais diferenciá-los. Até os orientais têm dificuldades nestas identificações, pois os hábitos como os das confecções e atitudes passaram a ser comuns. Só se diferenciam quando ainda usam os idiomas japonês, coreano ou chinês.

Conserva-se pouco dos hábitos originais, e os jovens preferem falar em português entre eles. Frequentam indiferentemente restaurantes japoneses, chineses e coreanos. Vale a pena garimpar neste mundo, pois vai se encontrar coisas interessantes. A maioria não distingue a origem de muitos pratos, e acha que o “yakisoba” (massa com carnes e legumes) é de origem japonesa, como o “lamen” (sopa de massas com grandes variações de caldos e temperos), quando ambos são chineses.

E os chineses, que não tinham o hábito de consumir produtos crus, hoje são apreciadores de “sushis e sashimis” (bolinho de arroz com ampla variedade de produtos, na maioria frutos do mar, e peixe cru). O tempero apimentado ou o alho que era frequente na culinária coreana, hoje são amplamente utilizados por todos os orientais.

Como uma grande metrópole São Paulo vai se tornando cada vez mais cosmopolita, miscigena a contribuição de imigrantes vindos das mais variadas localidades, oferecendo coloridos diferenciados para os turistas. É interessante, pois é uma diversidade que não se diferencia muito, mas aumenta as opções disponíveis.


10 Comentários para “Evoluções do Bairro Oriental de São Paulo”

  1. Michiko Okano
    1  escreveu às 10:19 em 19 de abril de 2010:

    Dr. Paulo, como o sr. diz, acredito que essa miscigenação colorida que se vê no bairro da Liberdade é peculiarmente brasileiro. Em outras metrópoles, como San Francisco, Los Angeles ou cidades européias, observa-se localizações distintas de Chinatown e Japantown.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 18:50 em 19 de abril de 2010:

    Cara Michiko Okano,

    Muito obrigado pelo seu comentário, de uma pessoa que conhece bem o assunto. Compartilho da idéia que nos Estados Unidos, por exemplo, existe a convivência de diversas culturas distintas, enquanto no Brasil experimenta-se a formação da cultura brasileira, nascida da contribuição de diversas outras. Mas tudo isto levará tempo, e no entanto, acho que temos uma abertura maior para aceitar o que existe de bom em outras que estamos absorvendo.

    Paulo Yokota

  3. cassiano
    3  escreveu às 07:56 em 8 de março de 2011:

    não sou oriental , mas aprecio muito a cultura , sempre que posso visito o bairro da ''Liberdade'' em São Paulo . A um número

    excelente de variedade de produtos que em outros lugares não se encontra agradeço muito a todos os orientais , chineses , japoneses , coreanos , por escolherem a cidade de São Paulo como seu lar….

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 07:29 em 9 de março de 2011:

    Caro Cassiano,

    Obrigado pelo seu comentário. São Paulo é uma metrópole formada pela contribuiçao de imigrantes estrangeiros e nacionais, com todas as suas contribuições culturais e etnicas, que se miscigenaram ajudando a forjar o povo brasileiro. É uma das razões que nos permite transformarmos em cidadãos deste mundo cada vez mais globalizado.

    Paulo Yokota

  5. Rafael
    5  escreveu às 12:41 em 12 de abril de 2011:

    Realmente é muito legal que haja uma integração, ainda que haja algumas rusgas entre essas colônias.

    Mas eu, descendente de japoneses, tive e tenho muitos conhecidos filhos de chineses e coreanos.

    Mas é curioso como, nos últimos anos, começaram a chegar muitos chineses em S.Paulo, que ainda vivem numa espécie de bolha (com o tempo vão se integrar, mas ainda não).O colunista da folha André Barcinski relatou um fato até cômico: ele entrou num restaurante desses novos imigrantes, onde só se ouvia chinês.Pediu melancia de sobremesa e a garçonete, muito grosseira,berrou que não havia mais.Logo depois, viu na mesa ao lado,só de chineses, chegar a sobremesa: melancia,claro!

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 13:03 em 12 de abril de 2011:

    Caro Rafael,

    Muito obrigado pelos seus comentários. Como em todos os povos existem pessoas simples, e no caso dos chineses, pessoas muito preparadas, com vivência internacional. Os imigrantes de mão de obra barata, como os que servem nos restaurantes, tem dificuldades de idiomas, como os brasileiros têm na Europa, nos Estados Unidos ou no Japão. Existem, lamentavelmente, muitos japoneses que vivem aquí no Brasil há mais de cincoenta anos, e mal falam o português, como os que aquí chegam tendo feito cursos desta lingua pouco conhecida no mundo. Não se pode generalizar, pois isto pode induzir a avaliações erradas.
    Trabalhei na China e visitei muitas de suas regiões, tendo encontrado pessoal de alto nível, inclusive falando português, pois Macau pertence àquele país, e muitos professores universitários tinham sido preparados naquela parte da China. Aprendí muito com eles que discutiam francamente até problemas sensíveis como as barbaridades cometidas pela Revolução Cultural. Surpreendeu-me a sua alto confiança para discutir com estrangeiros problemas que deveriam ser internos.
    Muitos japoneses, como europeus, não estão usando mais a expressão nipônicos, mas asiáticos. Por exemplo, no próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, existe um arquivo de documentos históricos, com muita coisa sobre o Brasil. Chamam de Arquivos Históricos Asiáticos.

    Paulo Yokota

  7. Juliana
    7  escreveu às 14:27 em 13 de março de 2012:

    Gostaria de saber mais sobre a cultura chinesa no Brasil e a relação da população chinesa com o Bairro da Liberdade, como esses paises asiáticos em suas diferentes culturas se relacionam nesse local e se ainda existem divergências entre China, Japão e Coréia nesse espaço tão mistificado. Seria interessante ter um Centro da Cultura Chinesa no Bairro da Liberdade e porque?

    Obrigada!

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 18:39 em 13 de março de 2012:

    Cara Juliana,

    O número de chineses no Brasil é relativamente baixo, sendo que alguns vieram de Taiwan e outros do continente. Eles costumam ser bons comerciantes e atendem clientes de todas as origens no bairro da Liberdade. As divergências entre a China, Japão e Coreia está hoje bastante atenuada, mas não pode se dizer que tudo está sem problemas. Existem pessoas cogitando de uma comunidade asiática, como existem no exterior. O governo chinês está estimulando a instalação de centros do Instituto Confúcio, tanto para lecionar mandarim como aspectos da cultura chinesa. Já existem três no Brasil e o de São Paulo deve se instalar na FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado, inclusive voltada para empresários.

    Paulo Yokota

  9. hiuna
    9  escreveu às 20:02 em 22 de junho de 2014:

    Sou nordestina, não conheço São Paulo, mas fiquei encantada com estas fotos. V.está de parabens em divulgar nosso país para tantos que não o conhecem.

  10. Paulo Yokota
    10  escreveu às 16:24 em 24 de junho de 2014:

    Cara Hiuna,

    Obrigado pelo comentário. Continue usando este site.

    Paulo Yokota