Humildade Para Aprender dos Outros
30 de abril de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: aprender com os outros, exemplos asiáticos, humildade | 2 Comentários »
Um surpreendente depoimento publicado no prestigioso jornal japonês Nikkei dá uma importante lição de humildade, mostrando que todos nós temos muito a aprender, principalmente os sul-americanos. O depoimento é de Eiji Hirano, um economista formado na prestigiosa Universidade de Hitotsubashi, com mestrado em Harvard, que fez carreira no Bank of Japan (Banco Central do Japão) e trabalha atualmente numa das subsidiárias financeiras da Toyota.
A matéria apareceu sob o título “Analysis: Japan Must Lean From South Korea’s Sucess” (Análise: O Japão Precisa Aprender com o Sucesso da Coreia do Sul).
Eiji Hirano e carro da Hyundai Motor, cuja meta é expandir a sua cota no mercado global
Como é do conhecimento de muitos, os japoneses conquistaram a Coreia no início do século XX, e a manteve como colônia até o final da Segunda Guerra. Alimentou um preconceito contra os coreanos, que ainda subsiste em muitos segmentos. Daí a grande importância deste depoimento de uma pessoa qualificada.
Eiji Hirano relata que nas suas viagens internacionais aprofundam a convicção pessoal que o processo de globalização não se interromperá, e que os coreanos estão ajustados a esta era, de onde é possível retirar algumas lições.
A presença coreana no cenário internacional está aumentando, desde os esportes até na indústria eletrônica e automobilística. Estão mais presentes que os japoneses no mundo, e a população coreana é menor em 40 por cento que a do Japão. Ele cita exemplos concretos de visitas efetuadas em diversas unidades na Ásia. Poderia se acrescentar que estão altamente competitivos na indústria pesada.
A Coreia estava atrapalhada financeiramente há 12 anos atrás, tendo superado a crise com a ajuda do Fundo Monetário Internacional, contrariando-o em muitos pontos. Mas efetuou um forte esforço para se tornar competitiva no mundo. A expansão mundial dos anos recentes certamente ajudou aquele país, como muitos outros países. Inclusive o Japão e o Brasil.
O relativamente pequeno mercado interno coreano forçou-a a competir internacionalmente, especialmente na Ásia, reconhecida como uma importante geradora dos impulsos de crescimento mundial. Mercados asiáticos são verdadeiros campos de batalha onde todos os meios públicos e privados precisam ser utilizados.
Os coreanos estão especialmente habilitados a adotar as melhores idéias e abordagens, inclusive dos seus concorrentes. Muitas de suas empresas estão utilizando engenheiros japoneses. Os japoneses, segundo Eiji Hirano, estão esquecendo que os produtos só valem quando vendem. Esta observação é importante, pois muitos acreditavam que produzindo bons produtos as vendas estavam garantidas. E os coreanos estão treinando seus funcionários em línguas estrangeiras e educações eletrônicas, enraizando-se onde existem mercados.
Se os japoneses estão precisando aprender com os coreanos, os sul-americanos devem deixar de impressionar-se somente com os chineses e japoneses. Outros países como a Índia e o Vietnam também podem fornecer importantes lições, até para o Banco Central. Um pouco de humildade não faz mal a ninguém.
Excelente que surjam gente com a visão do economista Eiji Hirano no Japão.
Que ótimo seria se os japoneses começassem a rever também a política de concessão de cidadania a descendentes de estrangeiros de 3ª, 4ª geração que ainda são considerados cidadãos de 2ª classe, não-japoneses. Entre eles, justamente milhares de descendentes de coreanos que nasceram, vivem, trabalham completamente aculturados no Japão, falando apenas o japones, há 3 ou mais gerações.
Alguma novidade nesse sentido?
Cara Naomi Doy,
Venho enfatizando que um certo sentimento asiático vem se consolidando na região, deixando para o passado resquícios dos conflitos havidos. No entanto, estes problemas ainda são difíceis de serem superados pelos que viveram estes dramas. Tudo indica que as novas gerações terão menos problemas, pois como V. bem lembrou, além dos brasileiros existem chineses e coreanos que vivem no Japão já por gerações. Existem alguns indícios que estas barreiras estão diminuindo como a admissão do exercício de profissionais formados no exterior, mas tudo se processa num ritmo lento.
Paulo Yokota