Mitos e Realidades Sobre Tancredo Neves
21 de abril de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: algumas versões, habilidades, político mineiro, presidente eleito | 4 Comentários »
Já dizia um astuto e experimentado político mineiro que em política o que vale é a versão. Tancredo Neves, cujos méritos são inegáveis, tornou-se um mito brasileiro com o seu desaparecimento trágico quando se preparava para assumir o poder para o qual foi eleito, há 25 anos. Muitos atribuem a sua eleição aos movimentos como a “Diretas Já”, ignorando que a transição do regime militar para o democrático decorreu de circunstâncias que o consideravam o mais adequado para a difícil tarefa.
Ele era o governador do Estado de Minas Gerais, politicamente relevante, mas para ser viabilizado como potencial candidato tinha que superar problemas que foram resolvidos satisfatoriamente por alguns componentes da administração federal anterior. Ele impunha algumas condições para se lançar candidato, o que foi negociado em demoradas e sucessivas reuniões, que duraram um apreciável período.
Tancredo Neves era muito cauteloso e não desejava correr riscos, considerando suas chances seguras se confrontasse candidatos que não fossem populares. Se a administração anterior não o ajudasse a superar alguns problemas, ele poderia ser prejudicado.
Foram removidas estas dificuldades e evitou-se o lançamento de candidaturas com as quais ele não gostaria de competir, mesmo que as chances delas fossem duvidosas. É fato que o segmento militar que estava no poder considerava Tancredo Neves como uma personalidade política em que a transição poderia ser mais tranquila.
Entre os componentes do Ministério que seria montado por ele, e que foi mantido por algum tempo pelo vice-presidente José Sarney, figuravam pessoas chaves que ocuparam posição de destaque na administração anterior.
Do ponto de vista de encaminhamento de muitos aspectos, como a reforma constitucional, se ele tivesse assumido o poder de fato, possivelmente haveria diferenças substanciais. A sua preferência era por uma reforma substancial e completamente elaborada pelo Executivo, que seria submetido ao Legislativo, dando maior organicidade que o elaborado de forma fragmentada e confusa pela Constituinte.
Por mais que a transição tivesse sido esboçada em conjunto, não havia a possibilidade de prever o seu desaparecimento, que acabou fazendo uma grande falta, diante de uma espécie de duplo comando que acabou ocorrendo posteriormente, entre o comando do Executivo e do Legislativo.
E ainda tivemos o desprazer de aturar o Sr. José Sarney.
Caro Ricardo Souza,
Na realidade houve uma composição política para estabelecer a chapa Tancredo/Sarney.
Paulo Yokota
nunca vai se saber se ele iria deixar de ser mito pra ser héroi.
Caro Markos Henrique,
Obrigado pelo comentário. Realmente, os seres humanos sempre podem mudar de comportamento, mas Tancredo Neves, para muitos analistas, tinha um comportamento conhecido ao longo de sua carreira política, sempre mineiramente cauteloso.
Paulo Yokota