Adaptações Chinesas Para a Economia de Mercado
17 de maio de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: dificuldades chinesas, especulações com produtos agrícolas
Mesmo tratando-se de uma economia onde o controle do governo continua relevante, existem problemas comuns com as economias de mercado. Quando o governo tenta evitar bolhas em alguns setores, como o imobiliário ou o mercado de capitais, parte dos recursos disponíveis acabam se desviando para outras atividades especulativas, como o de produtos agrícolas.
Hoje, com a elevação do nível de renda dos chineses, a tendência é dos seus consumos de alimentos se elevarem. Ao mesmo tempo, com a estiagem que afeta a agricultura daquele país, os preços de alguns produtos de alto consumo tendem a subir, como de alhos. Naturalmente, os que procuram oportunidades para ganhos substanciais, acabam especulando, aplicando recursos na estocagem destes produtos.
Segundo informações do jornal econômico japonês Nikkei, com base no artigo escrito por Wataru Yoshida, o preço do alho subiu 10 vezes com relação ao ano passado, e com a estiagem deve continuar subindo. Os restaurantes que costumavam servir livremente o alho passaram a cobrar pelos mesmos.
O mesmo acontece com outros produtos agrícolas, como um tipo de feijão chinês muito utilizado em mingau de arroz e outros pratos. Um tipo de cenoura utilizado como erva medicinal chinesa, bem como batatas e determinados tipos de chá. O arroz, amplamente usado naquele país, também sofre efeitos semelhantes.
Especialistas informam que empresários que investiam em imóveis e ações nas regiões costeiras, diante das informações de apertos monetários, estão operando com produtos agrícolas. Estima-se que os preços dos imóveis podem sofrer quedas substanciais. Como a expansão creditícia foi elevada para superar as dificuldades da crise mundial, espera-se uma forte contração dos mesmos créditos. Os preços dos produtos agrícolas sobem acima dos juros, até porque o mercado de capitais naquele país ainda não é tão desenvolvido.
Espera-se também uma reforma do sistema financeiro, como no restante do mundo, podendo haver alguma restrição para investimentos estrangeiros.
Duas consequências podem afetar o Brasil. Normalmente, quando os chineses entram no mercado para a importação maciça de produtos agrícolas, em decorrência da seca, as principais commodities acusam elevadas altas de preços, tendendo a gerar pressões inflacionárias, ainda que melhorem as receitas das exportações. Estas medidas restritivas da expansão exagerada de determinados setores, como o imobiliário, costumam ser adotados por outros países emergentes, de forma semelhante.