Indústria Automobilística Nos BRIC
22 de maio de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Empresas | Tags: BRIC, indústria automobilística, novos modelos
A jornalista Marli Olmos, do Valor Econômico, com sua reconhecida competência, publica hoje dois artigos sobre os desafios da indústria automobilística nos países conhecidos como BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China. Baseia-se nos estudos elaborados pela BCG – The Boston Consultant Group, que consultou 250 líderes deste setor que operam em todo o mundo.
As reportagens proporcionam dados preciosos sobre a evolução destas empresas no mundo, notadamente nos BRIC. E conclui que as diferenças de padrões de consumos nestes países desafiam as montadoras, apesar das demandas continuarem crescendo nestas economias, bem como suas produções.
Poderiam ser levantadas algumas questões que seria interessante serem respondidas. Todos sabem que o número destas empresas relevantes em todo o mundo continua limitado, mesmo com a criação de algumas novas e fusões que ocorrem para perseguir ganhos de dimensão. E que elas continuam sendo indutoras de outras empresas que procuram abastecer suas necessidades com peças e componentes.
O que parece merecer um aprofundamento maior é que se processa uma profunda alteração na demanda, notadamente nos países emergentes, onde novas massas de consumidores ingressaram no mercado de automóveis. Tanto que indústrias tradicionais no mundo se instalaram ou ampliam suas produções nestes países para atender esta demanda.
Elas apresentam características que nem sempre são comuns, pois as condições vigentes em cada uma delas são diferentes. Mas estes consumos decorrem de novas populações que ingressaram no mercado e começam comprando os que lhes são acessíveis em preços, como os usados. Como as ruas e estradas pelas quais trafegam continuam precárias, o que desejam são veículos mais robustos, que suportam infraestruturas precárias. Nisto, as diferenças são pequenas tanto no Brasil, na China ou na Índia. Quem percorre o meio rural assusta-se com o número de “tratores” que estão tracionando reboques com cargas. Ou velhos “jeeps” que continuam circulando depois de muitas décadas.
Parte das dificuldades das indústrias tradicionais no mundo parece decorrer da orientação: “tenho um bom carro, comprem”. Henry Ford já tinha ensinado que se deve procurar atender as necessidades dos consumidores, que parecem ainda pouco consideradas, como é o caso de muitos japoneses.
Outro aspecto que não fica muito claro é quanto os Estados indutores têm contribuído para a implantação destas indústrias. Que as indústrias recebem benefícios para se instalarem num país, num Estado ou num Município, não há dúvidas. Se uma economia dispõe de uma política industrial, o mais natural é aproveitar as condições que dispõe para atender a demanda de sua população.
Parte disto não estaria sendo feito pela China e pela Índia? As empresas tradicionais não parecem capacitadas a produzir modelos populares para atender as demandas dos novos consumidores, o que está sendo feito pelas novas empresas que estão ingressando neste mercado.
Deste ponto de vista, a pergunta que não quer calar é por que o Brasil, que foi capaz de criar uma indústria de aeronaves competitiva no mundo, ajustado às necessidades dos consumidores, não tem um projeto nacional para este tipo específico de demanda, que poderia atender até mercados externos? Por que vamos importar veículos chineses e indianos?