Japoneses Deixam de Aproveitar Seus Investimentos
26 de maio de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: Carajás-Itaqui, fornecimentos e empréstimos à Petrobras, o desenvolvimento dos cerrados, saneamento | 4 Comentários »
Ainda que o Japão venha ajudando significativamente nos projetos de desenvolvimento brasileiro, nota-se que os japoneses contam com dificuldades para aproveitar esta expressiva cooperação para estimular o seu intercâmbio bilateral com o Brasil. Alguns projetos, como o do desenvolvimento dos cerrados brasileiros, são um exemplo expressivo desta limitação.
Poucos sabem que o JBIC – Japan Bank for International Cooperation é um dos maiores financiadores da Petrobras, pelos fornecimentos de plataformas, aperfeiçoamentos de refinarias, instalação de gasodutos etc. Mas não se faz publicidade destes fatos, que somam a cerca de US$ 8 bilhões de empréstimos, não ajudando a opinião pública brasileira a ter uma imagem correta da importância desta colaboração japonesa.
Apesar de o Japão ter ajudado, de forma fundamental, na expansão da produção de soja e outros cereais nos cerrados brasileiros, com um programa que envolvia deste a pesquisa, como a instalação de unidades agrícolas, os japoneses continuam insignificantes na comercialização do que decorre desta cooperação. Os nipônicos estão entre os maiores importadores mundiais destes cereais, mas são outras empresas multinacionais que são os seus fornecedores.
No projeto Carajás, desde a sua mineração, implantação da ferrovia para o porto de Itaqui, construção deste fenomenal terminal de carregamento dos grandes navios graneleiros e tudo que cerca este gigantesco complexo foi efetivado com a cooperação japonesa. Hoje, o porto se torna estratégico para a exportação também de cereais produzidos nas regiões que recebem seus benefícios.
O jornal Valor Econômico publica um artigo do jornalista Francisco Góis, “Itaqui planeja ser base de exportação de grãos do Centro-Oeste”, como é natural. Mas também de parte da Amazônia e do Nordeste. Nada se ouve falar de iniciativas japonesas para aproveitar este formidável “corredor de exportação” que foi criado com seus investimentos e financiamentos.
Os japoneses concederam financiamentos privilegiados para a retificação e o saneamento do rio Tietê. Continuam financiando a melhoria do saneamento da Baixada Santista, e agora da Represa de Guarapiranga, projetos que são amplamente utilizados nas campanhas até eleitorais. Mas nenhum crédito significativo vem sendo dando às ajudas do Japão.
Hoje, sente-se a falta de uma opinião pública brasileira favorável ao intercâmbio com o Japão, pois a Ásia passou a ser atrativa pelas relações com a China e com a Coreia. Elas todas são importantes, mas nota-se uma incapacidade do Japão e do Brasil em transmitir estas relevantes realidades para o público, e, consequentemente, transformar estes projetos em resultados empresariais.
E sem resultados, o intercâmbio bilateral tende a estagnar. Novos e expressivos projetos de infraestrutura estão sendo cogitados, e os asiáticos possuem boas possibilidades. Mas será que os japoneses não contam com uma imagem favorável para obtê-los?
O JBIC não faz publicidade porque na realidade protege os interesses japoneses, caro Paulo. No caso da soja, o Japão precisava de uma área segura, já que o Nixon proibiu a exportação de soja pro Japão. o tal do choque Nixon. Os japoneses não tiveram saída, tiveram que botar dinheiro no cerrado não pra ajudar os coitados dos brasileiros, mas pensando na sua própria barriga.
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Caro Jose Comessu,
Obrigado pelo seus comentários. Lamentavelmente, tenho que corrigir alguns aspectos. O JBIC, além dos recursos de financiamento das exportações, opera também com os chamados recursos concessionais, que são empréstimos feitos com prazos de até 30 anos, com alguns casos a juros zero. E também parte com doações como no caso do Rio Tiete. O chamado embargo de Nixon era com relação a China e sacrificou milhões de chineses que morreram de fome. As exportações de soja e seus derivados ocorrem para todo o mundo, sendo operados no mercado de Chicago. Os brasileiros continuam sendo um grande consumidor e soja, na forma de óleos e rações que alimentam aves que exportamos, e parte consumimos no Brasil.
A Embrapa recebeu importantes ajudas que nos auxiliaram no desenvolvimento de variedades que são plantadas deste o Rio Grande do Sul até o Norte e o Nordeste. Os nossos cerrados que eram explorados extensivamente, agora são cultivamos intensivamente, até com a utilização do pivô central, propiciando até três safras diferentes por ano, proporcionando parte do desenvolvimento do agronegócio brasileiro, criando muitos empregos no Brasil.
Paulo Yokota
Paulo Yokota
Obrigado Paulo pelo esclarecimento, o The Economist dessa semana fala do milagre do cerrado, mas nenhuma palavra sobre os japoneses que deram um grande empurrão.
http://www.economist.com/node/16886442
Caro Jose Comessu,
Obrigado pelo comentário. Realmente, o desenvolvimento do cerrado é um longo processo que recebeu a colaboração de muitas pessoas, e um artigo mesmo de um revista importante como The Economist não pode cobrir todos os aspectos. Mas reconheceu a importância da agropecuária brasileira no cenário mundial, com respeito à floresta Amazônica. A sustentabilidade deste desenvolvimento tornou-se um aspecto importante.
Paulo Yokota