Necessidade de Uma Política Industrial
28 de maio de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: construção naval, encomendas da PetrobrAs, oportunidades perdidas, planejamento de prazo mais longo
As necessidades atuais de navios-sondas da Petrobras, visando a exploração das reservas já localizadas como no pré-sal, estão estabelecendo uma espécie de política industrial, ainda que não admitida pelo governo federal. Encomendas que envolvem cerca de R$ 50 bilhões, como noticiado na Folha de S.Paulo ontem, exigindo que os mesmos sejam produzidos no Brasil, provoca tais efeitos. Mesmo que as partes relevantes destes navios ainda sejam importadas.
Os que conhecem um pouco da história da indústria naval brasileira devem lembrar-se de que o Brasil já contou com a maior do mundo, chegando a lançar cerca de 2 milhões de TDW de navios ao ano, superando o Japão e a Coreia. A falta de continuidade daquela política levou todo o setor à insolvência, que durou duas décadas, e a recuperação vem ocorrendo lentamente, voltando aos poucos ao mesmo nível de emprego já atingido há décadas.
Existem os que analisam que o setor de construção naval brasileiro voltou à linha de evolução que tinha no passado, atendendo as demandas existentes, com suas carteiras de encomendas abarrotadas. Mal sabem que perdemos muito, poderíamos estar muito mais avançados, como estivemos no passado.
Evidentemente, os empresários do setor estão se apressando para atender todas as exigências da Petrobras, mas necessitam de substanciais importações das partes mais relevantes, pois não temos hoje as tecnologias de ponta para estas encomendas. Diques secos capazes de lançar mais de 1 milhão de TDW anual voltam a ser utilizados, mas os profundos relacionamentos com os detentores das melhores tecnologias do setor acabaram ficando tênues. As necessidades dos últimos anos foram atendidas pelos fornecedores estrangeiros, deixando de criar tecnologia e empregos no Brasil.
E na indústria pesada, como a construção naval, há necessidade de um fluxo contínuo de encomendas por um prazo longo, pois picos eventuais não permitem o desenvolvimento de uma engenharia capaz de gerar projetos eficientes em grande escala. O pré-sal e outras necessidades paralelas estão exigindo uma verdadeira política industrial que, paulatinamente, capacite as nossas empresas a atender o mercado de equipamentos pesados, que poderão se tornar competitivas no mercado internacional.
A dimensão do mercado interno, atual e no futuro próximo, justifica o estabelecimento de uma política clara, que seja aperfeiçoada aos poucos, mas que comece por um mínimo já necessário. De outra forma, vamos continuar sendo meras montadoras de projetos desenvolvidos no exterior, que atendem necessidades diferentes das nossas, como acontece no setor automobilístico, por exemplo.
Se o Brasil pretende ser um “player” internacional respeitável, está diante de uma oportunidade ímpar. Poucos contam com um mercado interno desta dimensão e do interesse internacional de participarem desta nova etapa do desenvolvimento brasileiro. Ainda que muitos achem que os mecanismos de mercado vão acabar estabelecendo o que se necessita, um programa de prazo mais longo, com uma forte indução governamental, pode ajudar no lançamento das bases indispensáveis.
Não é o que outros países emergentes concorrentes estão fazendo, concentrando os seus recursos nos pontos estratégicos deste desenvolvimento? Não podemos ter o complexo de inferioridade, pois já contamos com uma estrutura industrial mais desenvolvida, que pode ser recuperada. Isto não será feito sob o comando do setor financeiro, mas por aqueles que estão voltados à tecnologia e a produção. É um trabalho pesado, que vai além dos escritórios bem decorados.