O Difícil Acordo Militar Japão-Estados Unidos
23 de maio de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: dificuldades permanentes, nova localização para a Base de Futenma, Okinawa | 9 Comentários »
Este é um assunto de difícil compreensão, principalmente para quem não é japonês nem norte-americano. Mesmo para eles, não há um razoável consenso, e só se pode dar uma idéia geral para tentar entender um problema tão complexo, que repercute para todo o resto do mundo. Como o Brasil faz parte deste mundo, sempre é conveniente conhecer, no mínimo, os aspectos fundamentais deste complicado caso.
Informa-se que o Japão e os Estados Unidos chegaram neste fim de semana a um acordo, ainda em princípio, para a próxima remoção da Base Aérea de Futenma, em Okinawa, que não é a única naquele país. Ela iria para uma localidade próxima, na costa de Henoko, distrito de Nago, em Okinawa, com o que a população local não concorda. Esta base tem sido motivo de constantes atritos, pois se localiza hoje dentro da área urbana.
A presença de bases militares norte-americanas no Japão decorre do acordo estabelecido ao término da Segunda Guerra Mundial, quando o Japão abdicou de contar com forças militares próprias para sua defesa e da Ásia. O acordo foi estabelecido ainda sob o impacto dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, tendo os japoneses renunciado ao uso de armamentos desta natureza.
Os custos destas bases militares norte-americanas são totalmente arcadas pelos japoneses, mas elas continuam sendo vitais para a estabilidade da Ásia, não só do Japão. Os problemas atuais com a Coreia do Norte ou a relativa independência de Taiwan dependem destas presenças. Pelo acordo vigente, não se admite a presença de armamentos atômicos no Japão, sem o expresso conhecimento prévio de suas autoridades, mas é de sabido que navios e aviões norte-americanos os portam livremente.
Os aspectos mais agudos são decorrentes de crimes provocados por soldados norte-americanos, alguns sexuais, onde há vitimas japonesas, pois os militares são numerosos, e na vida cotidiana, lamentavelmente, estes incidentes acabam acontecendo. Daí a forte pressão da população local para a remoção destas bases para fora do Japão, a que se somam outras questões.
O atual governo japonês, que conta com o suporte de cerca de 20% da opinião publica local, comprometeu-se a resolver o problema nas eleições, arcando totalmente com seus custos, com o que não concordam os norte-americanos. Algumas alternativas foram cogitadas, mas nenhuma delas se afigura satisfatória, e a solução vem sendo postergada. Para que o assunto seja equacionado, ainda restam muitas questões mal definidas.
O clima de mal-estar vem se agravando, ainda que a maioria asiática continue achando que a presença militar norte-americana na região é necessária, como também ocorre, por exemplo, na Coreia, alem da frota naval na região. A enfraquecida economia norte-americana não suporta mais os custos de suas intervenções, mas poucos outros países se dispõem a compartilhá-los.
Só com estas pequenas pinceladas, verifica-se a magnitude e complexidade destes problemas, cujas soluções são prometidas demagogicamente nas eleições.
muito bom !
Caro Juan,
Obrigado pela visita ao site.
Paulo Yokota
Sr. Paulo Yokota, estou estudando as violações aos direitos humanos da população de Okinawa em decorrência das bases militares. O que me intrigou no seu texto foi a seguinte frase: “Os custos destas bases militares norte-americanas são totalmente arcadas pelos japoneses, mas elas continuam sendo vitais para a estabilidade da Ásia, não só do Japão.” Isso porque nos discursos do departamento de defesa dos EUA, os custos com defesa do Japão sao bancados pelos EUA e apenas 1% do PIB do Japão é usado para fins de defesa. Mesmo sabendo que 1% representa um grande montante, não acho realmente que seja suficiente para sustentar todas as bases , pois a meu ver o grande investimento japonês em defesa é na área de tecnologia. Gostaria de um retorno e se o Sr. tiver material sobre Okinawa teria interesse em acessá-lo.
Att. Aline
Cara Aline,
Não sou um especialista no assunto, mas vou procurar obter mais informações. O Japão mantem um Sistema de Auto Defesa, pois constitucionalmente não pode contar com forças militares de ataque ao exterior. Mantem um acordo como os Estados Unidos para a sua defesa externa, admitindo bases militares não só em Okinawa como em Yokota (aeroporto militar) nas proximidades de Tokyo. Os problemas que surgem em Okinawa decorrem dos contatos dos militares norte-americanos com a população local, quando algumas jovens japonesas acabaram vítimas sexuais de militares nos seus horários de folga, o que leva as autoridades de Okinawa a proporem o seu deslocamento para outra área, com custos arcados pelos japoneses, de forma a minimizar estes contatos com a população local. As informações que tenho é que os custos destas tropas estacionadas no Japão são arcadas pelos japoneses, mas estas informações sobre segurança externa costumam ser secretas. Informa-se sobre as violações do acordo, pois equipamentos atômicos poderiam adentrar o território japonês somente com autorização prévia, mas é corrente que navios e aviões militares norte-americanos transportam os mesmos sem estas consultas. São problemas sensíveis e existem muitos artigos publicados bem como pronunciamentos de políticos japoneses contrários aos norte-americanos, mas não são objetos de interesse prioritário para mim.
Paulo Yokota
Dr. Paulo
Aproveitando a sua boa vontade e seu conhecimento no assunto. Gostaria de saber se o Sr. acha que o Japão está buscando um novo papel no cenário internacional, promovendo sua segurança militar, através, por exemplo, do crescimento da Força de Defesa Nacional ou ele continua apenas sendo um aliado especial dos EUA no que tange à segurança?? Então, qual seria a estratégia de segurança nacional japonesa na atualidade? Pergunto isso porque diversos materiais que encontro sobre a temática são de anos anteriores, então me intriga saber o que se pode realmente dizer do presente, especialmente quando se pensa no Livro Branco Japonês. Por outro lado, gostaria de saber também se o Sr. conhece alguma ONG de OKinawa que trabalhe com perspectivas de segurança humana dos habitantes da região que possam me fornecer dados atualizados de violações ao direitos da população de Okinawa, pois a maioria dos que encontro são de 2000/2001. Já enviei email para algumas e até agora não obtive resposta e preciso terminar meu trabalho sobre a temática. Assim, fico grata mais uma vez pela atenção.
Aline
Cara Aline,
O Japão perdeu a guerra, com os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki. Com a ocupação americana foi estabelecida uma nova Constituição que modificou muitos aspectos do Japão, inclusive a renuncia a existência de uma força militar própria, e a Força de Defesa passou a cuidar somente de parte da segurança, e do ponto de vista internacional passou a dependência da ajuda norte-americana. Este sistema de defesa recebeu muitos equipamentos para proporcionar emprego na sua indústria pesada, nos momentos como a da crise petrolífera, mas as dificuldades orçamentárias atuais não permitem grandes investimentos na mesma. Há um teatro neste aspecto, e as realidades não são discutidas publicamente, havendo algo como um tabu. O que existem são reações que se expressam nos episódios como os crimes cometidos por militares americanos com mulheres japonesas, que acabam virando artigos de jornais. Não conheço nenhuma ONG que cuide do assunto, e somente nas eleições de Okinawa é que estes problemas acabam se expressando de forma mais aguda.
Paulo Yokota
Existe uma figura conhecida mundialmente, e também no templo em Nikko Toshogu, que reflete com perfeição a atitude japonesa diante de situações como essa; são os três macacos,… que pode ser interpretada de diversas formas, neste caso, a reação diante de algo constrangedor. Não ouve, não fala, não vê.
Caro Frederico,
Muito obrigado pelo comentário.
Paulo Yokota
O Japão é de fato e de “direito” um país sob ocupação militar estrangeira…É o que se pode deduzir.