Alguns Sinais de Melhoria na Economia Japonesa

7 de junho de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: importância dos salários, primeiros sinais de melhoria | 2 Comentários »

O que costuma ser de difícil compreensão até para os economistas é a importância dos salários reais, comparativamente aos de seus parceiros comerciais, para determinar o que está acontecendo de relevante num país específico. Se algumas empresas estrangeiras sentem as primeiras greves na China, fazendo com que os salários dos seus operários se elevem, como na indústria automobilística, algo de muito importante está acontecendo. Deve reduzir a sua capacidade de exportação, como se o seu câmbio tenha se valorizado.

O câmbio, por incrível que pareça, quando desvalorizado, provoca redução nos salários reais, aumentando a capacidade de aumento das exportações e redução das importações, vis a vis seus parceiros comerciais. O inverso também é verdadeiro. O Japão, ainda a segunda economia do mundo, segundo os japoneses, vem registrando aumentos dos seus superávits comerciais, como noticiado no seu jornal econômico Nikkei. Isto significa que, depois de muita insistência, sua economia começa a dar sinais de recuperação, ainda que de forma incipiente.

É evidente que isto não pode ser atribuído ao novo governo, mas como tudo em economia apresenta uma longa defasagem no tempo para provocar os seus efeitos, são os primeiros sinais que algo começa a mudar depois da insistência na sua política econômica, ainda que custosa. E ajudado por uma natural melhoria das condições de vida na China, que já se reflete na falta de mão de obra qualificada, tanto nas montadoras de automóveis como fornecedoras de autopeças.

O que se espera é que isto comece a se generalizar por outros setores chineses, provocando uma melhoria no seu mercado interno, reduzindo a sua dependência de suas exportações, que estavam desequilibrando o comércio internacional. Ainda é um movimento lento, como tudo que acontece em grandes economias, mas que, ganhando impulso, é difícil de alterar os seus rumos a curto prazo.

Significa isto o equivalente à valorização cambial na China, principal parceira comercial de muitos países no mundo, inclusive Estados Unidos, Japão e até mesmo o Brasil.

Se isto vier acompanhado de uma melhoria da economia japonesa, ainda que comparada com um ano passado terrível, pode haver uma perspectiva melhor na economia mundial, para compensar em parte as dificuldades europeias e o que ainda preocupa no sistema financeiro internacional.

O mundo necessita reduzir a capacidade do setor financeiro internacional gerar instabilidades. Apesar de suas resistências, uma regulamentação é indispensável, pois já comprovou sua possibilidade de provocar estragos, e parece que está gerando novas bolhas, com elevadas remunerações dos seus executivos, que se aproximam dos criminosos, em muitos casos.

É preciso que o mundo se preocupe com o lado real da economia, que depende de tecnologia e eficiência que estão melhorando, deixando de viver dos cassinos financeiros. A boa imprensa econômica poderia aumentar o seu espaço para estes assuntos, deixando de ser induzida pelas publicidades generosas das instituições financeiras. Pelo que se saiba, os seres humanos não comem dinheiro, não vestem moedas, e muitas das cotações são ilusões virtuais, como jogos eletrônicos.