Deslumbre Com a China e Outros Emergentes
21 de junho de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: capacidade de negociação, dificuldades naturais, os emergentes
Parece que vivemos num mundo fortemente influenciado pelos interesses financeiros imediatos e a imprensa acaba inundada por notícias que refletem a volatilidade natural deste setor de atividade, com altos e baixos “on line”. Que propiciam resultados para os que especulam nestes mercados, com prejuízos para os seres humanos normais, mas não se transformam necessariamente em benefícios para todos. O mundo das coisas reais, infelizmente, não tem esta velocidade e as mudanças se processam com vagar, quase sempre guiados pelos interesses nacionais. As atividades financeiras são auxiliares para ajudarem na produção e na melhoria do bem-estar.
Nos últimos dias, ora se exagera que a flexibilidade inicial do câmbio chinês propiciará resultados excepcionais, para nos dias seguintes se alertar que estas mudanças serão lentas, e as consequências pífias. Depois se noticia com estardalhaço que os salários chineses estão se elevando, como se fosse um movimento uniforme e geral.
Ora, entre os países chamados BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China estão se processando mudanças, mas as suas dimensões e diferenças regionais e setoriais fazem com que a propagação de tais mudanças seja lenta, podendo modificar o quadro geral a longo prazo. Não existem milagres, como os que se processam instantaneamente “on time”, como em muitas operações do mercado financeiro, que levam às instabilidades observadas recentemente.
Alem da visão de curto prazo, também necessária para dar liquidez, é preciso que se observem as tendências de longo prazo, como os dados demográficos, que são importantes. Com mudanças aos infinitésimos, mas que acabam sendo inexoráveis, como o aumento da idade média da população. Muito do aumento das despesas e dos endividamentos públicos, que estão gerando dificuldades em muitas economias mais maduras, decorrem, em boa parte, das dificuldades de previdência e aumento dos custos relacionados à saúde.
Lamentavelmente, até agora, os economistas foram incapazes de anular as tendências para ciclos econômicos, ainda que se tenham aperfeiçoados os instrumentos de sua política. Sempre haverá conjunturas de expansão e, infelizmente, de depressão, com durações variadas. O que deve se evitar é a euforia exagerada nos momentos de melhoria, mas também o pessimismo profundo nos períodos de declínio.
Muitas destas sociedades, como as hindus e chinesas, possuem histórias milenares, e já tiveram períodos brilhantes no passado, como voltam a recuperar nos anos recentes. Mas que ninguém imagine que são permanentes, mesmo que estes ciclos sejam longos.
Os especuladores financeiros são poucos, apesar do barulho que fazem. Os seres normais são trabalhadores que vivem dos seus salários que estão melhorando aos poucos. Sejamos otimistas, mas com muito pé no chão, entendendo que não existem milagres econômicos, mas a acumulação de muito trabalho e paciência.