Persistências de Poucos Intelectuais Nikkeis
15 de junho de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: casos isolados, indiferença das entidades que deveriam cuidar destes assuntos, marcas das persistências
O jornal O Estado de S.Paulo publica hoje dois artigos de persistentes intelectuais nikkeis que não têm merecido a devida atenção das entidades desta comunidade. O primeiro, sob o título “Um haicai arquitetônico”, do jornalista Jotabê Medeiros, trata do indigente trabalho de Akinori Nakatani na preservação do Casarão do Chá, de Mogi das Cruzes. Outro, sob o título “Teve a ousadia de criar uma geração literária”, do poeta Claudio Willer, em memória a Massao Ohno (1936-2010).
Akinori Nakatani, mais conhecido como um consagrado ceramista internacional, japonês de origem, é um dos poucos que ganharam o Primeiro Prêmio Presidente da República da Itália, da Bienal de Faenza, considerada a mais importante do mundo nesta especialidade. Radicado há décadas em Mogi das Cruzes, é um dos mais persistentes intelectuais que lutam por dezenas de anos pela preservação da Casa de Chá, com todo o empenho individual que é possível.
Massao Ohno, desde os anos cinquenta do século passado, começou suas atividades editando apostilas que eram usadas pelos que almejavam participar dos vestibulares que ganharam importância no ingresso nos cursos universitários do pós-guerra.
Massao Ono, Carlos Seabra e Alice Ruiz, em 2004. Akinori Nakatani
Akinori Nakatani é formado em verâmica pela Universidade de Kyoto, passou por uma peregrinação pelos Andes, sendo influenciado pelos trabalhos dos incas, instalou e seu ateliê em Mogi das Cruzes no Brasil. Trabalhou com sua persistência, que é uma marca pessoal, ajudando a introduzir neste país a cerâmica de alta temperatura como outros pioneiros que vieram do Japão no pós-guerra, como Shoko Suzuki.
Para sobreviver como artista, produzia também cerâmica utilitária de alta qualidade, apesar da elevada qualidade dos seus trabalhos mais sofisticados. Desde quando tomou conhecimento do Casarão do Chá, nas redondezas do seu ateliê, vem movendo mundos e fundos, num trabalho pessoal, quase solitário. Com poucos recursos, vem mantendo este patrimônio que é construído com uma técnica antiga do Japão, sem a utilização de um único prego, mas somente encaixes de madeira. Segundo o artigo publicado, vai conseguindo apoios adicionais para consolidar o local como um verdadeiro centro cultural. Todo o mérito sobre esta obra de recuperação deve ser creditado à sua persistência.
Massao Ohno faleceu no último fim de semana. O artigo publicado lhe dá o crédito de um trabalho de editor, um pioneiro que lutava para publicar autores novos, que não interessavam às grandes editoras, por serem inviáveis economicamente. Persistente, mantinha discretamente seu importante trabalho, dando uma contribuição que deve ser ressaltado, alguns relacionados com a divulgação do Japão em língua portuguesa.
São personalidades e suas obras precisam ser conhecidas pelo publico, pois preenchem as lacunas deixadas pelas instituições que deveriam cuidar da cultura, mas continuam concentradas em outras atividades.