Japoneses no Trem Rápido Brasileiro
15 de julho de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Trem Rápido | Tags: avaliam falta de demanda, notícia no Nikkei, posição dos japoneses | 6 Comentários »
São frequentes as notícias de que os japoneses sentem dificuldades para participar da concorrência do trem rápido brasileiro que deve ligar Campinas, São Paulo, Guarulhos, Galeão ao Rio de Janeiro, como confirma hoje o respeitável jornal econômico do Japão, Nikkei.
Apesar de registrar que as autoridades brasileiras esperam o crescimento da demanda, tanto pelo aumento da população como das demais condições que cercam o projeto em concorrência, os japoneses revelam que não estão dispostos a correr os riscos de um empreendimento que acham que não é proporcional os retornos necessários.
Todos sabem que o chamado Shinkansen japonês, apesar da elevada qualidade comprovada por décadas de operações sem nenhum acidente, seus custos são mais elevados que outros potenciais concorrentes, inclusive chineses e coreanos. Como a sua tração está localizada em cada vagão, tecnicamente é adequado ao tipo de topografia do projeto brasileiro, que implica na necessidade de subir do nível do mar à altitude de São Paulo.
Se seu custo dos equipamentos é mais elevado, ainda que se considere o conjunto de todos os demais ítens, inclusive retorno decorrente dos aproveitamentos dos imóveis adjacentes às estações que tendem a se tornar importantes pontos de venda, parece que o risco do projeto está sendo considerado demasiadamente elevado. Como o edital de concorrência estabelece preferências por custos mais baixos, inclusive das tarifas a serem cobradas, tudo indica que os japoneses desistirão de participar do projeto, o que é lamentável.
Setores bem informados sobre o trem rápido dão conta que os coreanos e chineses continuam sendo considerados os mais prováveis vencedores. Mas ainda haverá um período de meses até o julgamento final da concorrência, o que pode levar a novas, mas pouco prováveis evoluções.
Os japoneses acabarão fechando contrato com o Brasil por causa das ligações políticas entre os dois países.
Contratar equiples coreanas e principalmente chinesas são muito arriscados a longo prazo. Pode ser que venham peças falsificadas.
Caro Nikos Magnus,
Esta é a sua opinião, que respeitamos, mas não é a das pessoas mais informadas sobre a evolução atual da concorrência.
Paulo Yokota
Uma oportunidade de estreitar laços na America do Sul, numa época em que o Brasil é a menina dos olhos de todos os investidores mundiais e o Japão com pensamento atrasado de só investir se há 90% de chances de acerto.
Hoje quem ganha não é o melhor e sim o mais rápido.
Acredito que se o Japão perder mais essa concorrência, pode parar de pensar em vendas globais no setor de infra estrutura.
A presença de Chineses e Coreanos nos investimentos em energia e mineração no Brasil podem fazer com que o Japão tenha que comprar deles num futuro não muito distante.
Caro Dinos,
Obrigado pelo comentário. Há que se admitir que os custos dos japoneses é alto e ja há uma maior integração regional com produtos fabricados com partes de diversos países. Até recentemente havia uma determinação governamental mais ativa da parte dos coreanos e chineses, à qual o governo japonês está reagindo, dando apoio mais amplo e político às iniciativas privadas.
Paulo Yokota
O falecido fundador da Sony, Akio Morita contava uma anedota em seu livro "Made in Japan" sobre a visão dos japoneses nos negócios, que era mais ou menos assim:
"Numa tribo na Africa ninguém usava calçados, dois vendedores de sapatos, um japonês e outro americano tomaram as seguintes decisões:
O japonês percebeu que havia um enorme mercado, pois ninguém tinha sapatos;
O americano percebeu que ninguém tinha o costume de usar sapato, logo não havia mercado."
Infelizmente, hoje os japoneses pensam diferente, não é?
Pois basta citar o exemplo da Toyota quando resolveram parar de fabricar o famoso "jeep" Bandeirantes, um modelo que apesar de muito antigo era admirado pela sua resistência e confiabilidade, sendo que havia uma legião de fãs. (A justificativa dada pela empresa era que não compensava mais atualizar o motor para continuar fabricando o modelo no Brasil ).
Coincidentemente na mesma época, empresários brasileiros criaram a Troller, um jeep com designer similar ao modelo Bandeirante. Após algum tempo, a Ford comprou essa mesma fábrica e até hoje o modelo é fabricado, com vendas similares ao antigo Bandeirantes…
A mesma coisa é em relação ao trem-bala,
ao invés de ficarem reclamando da inviabilidade do negócio, os japoneses deveriam buscar meios de convencerem os brasileiros para que o negócio seja realizado o mais rápido possível.
Certamente a implantação do trem-bala no Brasil impulsionará outros empreendimentos similares no país e talvez na America Latina, recuperando o investimento gasto no trajeto Rio-SP.
Caro Massa,
Não concordo com a maioria dos aspectos que constam do seu comentário. A Toyota só considera uma planta que produz mais de 400.000 veículos para atingir o custo mínimo. Até hoje nem chegaram a sua metade no Brasil. E o Bandeirantes utilizava motor da Mercedez Bens, e a engenharia da Toyota considerava impossível perfeiçoar, mesmo um jeep, com motores de outras empresas.
Sobre o trem rápido, o Brasil se interessa por tecnologias eficientes e baratas, que não é o caso dos japoneses, muito cara. E na atual concorrência é fundamental o entendimento com empresas de outras origens, onde os japoneses têm dificuldades para a montagem de consórcios com empresas que não sejam de sua cultura empresarial.