Agropecuária Brasileira é Motivo de Artigos do The Economist
27 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Tecnologia | Tags: leitura obrigatória, o avanço tecnológico
É muito raro um assunto ser elogiado pelo The Economist, a mais importante revista que trata da economia, política e outros assuntos correlatos com a profundidade desejada. Tanto no seu editorial como na sua principal matéria do último número, esta revista reconhece que o Brasil descobriu um novo caminho para a preservação do meio ambiente, com um sensível aumento da produção e da produtividade deste setor, que ocorre basicamente no cerrado.
A extensa matéria baseia-se em entrevistas com dirigentes da Embrapa como de dois casos concretos, um projeto da BrasilAgro no Piauí e outra da Jatobá na Bahia, além de muitas fontes de dados, como de organismos internacionais como a OECD e a FAO. Reconhece que o Brasil executou o que estava sugerido pelo Prêmio Nobel Norman Borlang, considerado o pai da Revolução Verde, que começou nos anos sessenta do século passado.
Ele propunha um aumento da produtividade da agropecuária, utilizando insumos como fertilizantes, calcários, defensivos e sementes selecionadas. E o governo brasileiro, quando fui diretor do Banco Central do Brasil, no final dos anos sessenta, fornecia recursos para custeio agrícola, investimentos e comercialização com taxa de juros de 6% ao ano, sem correção monetária, para estimular o uso destes insumos, o que provocou um sensível aumento da produtividade.
No mesmo período desenvolvemos o programa de Corredores de Exportação, beneficiando os portos de Rio Grande, Paranaguá, Santos e Vitória, que passaram a trabalhar a granel, quando antes os produtos agrícolas eram transportados em sacarias. Posteriormente, com a ajuda japonesa, desenvolveu-se o programa de Desenvolvimento dos Cerrados, com um papel decisivo da Embrapa nas pesquisas que resultaram em milhares de variedades adequadas ao nosso clima e solos.
Esta absorção de conhecimentos do exterior veio de muito antes, quando o Brasil cruzou o seu gado “pé duro”, que os colonizadores portugueses para cá trouxeram, com o zebu indiano, criando o que se tornou conhecido como nelore, resistente às condições rústicas do cerrado brasileiro. Continuou com a introdução da braquiária africana, que hoje é à base das nossas pastagens.
O The Economist indica que esta experiência brasileira não implica em subsídios como os concedidos pelos Estados Unidos, Europa e outros países desenvolvidos. E está começando a ser partilhada com os africanos, num processo que vai exigir adaptações, pois as savanas daquele continente são mais áridas. É verdade que já existem experiências feitas no sertão nordestino, igualmente mais árido.
Estes artigos são importantes reconhecimentos internacionais dos esforços que vêm sendo feitos pelo Brasil há décadas, utilizando a pesquisa, adaptando conhecimentos provenientes do exterior, e uma mão-de-obra e um empresariado eficientes, que enfrentam todas as adversidades como juros elevados, impostos pesados, câmbios desfavoráveis, proteções absurdas para continuar crescendo e tornando realidade o sonho de se tornar o “celeiro do mundo”, mais competitivo que o setor rural dos países desenvolvidos.
É um dos orgulhos de ser brasileiro.