Dúvidas Frequentes Sobre a Economia Chinesa
25 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: futuro da economia chinesa, o uso do mercado interno, recursos para o desenvolvimento, suas exportações
São frequentes as dúvidas dos analistas de todo o mundo sobre a capacidade chinesa de se manter num elevado ritmo de desenvolvimento, como o dos últimos anos com um pouco de acomodação, quando as principais economias desenvolvidas hoje enfrentam dificuldades para voltar a crescer. Acusam os chineses de manterem o seu câmbio extremamente desvalorizado, causando um desequilíbrio mundial. Mas não se ignora que as autoridades da China procuram estimular o seu mercado interno para sustentar o seu processo de crescimento, e a remuneração dos seus trabalhadores está crescendo, ainda que a desigualdade interna seja marcante. Estes analistas sabem que o fator relevante é o custo da mão-de-obra, que está se elevando naquela economia.
O volume e o ritmo de investimentos chineses em construção de habitações, edifícios e infraestrutura vêm impressionando o mundo. Reclama-se que se promove agora a interiorização forçada do seu desenvolvimento industrial, para reduzir a desigualdade com relação ao litoral, onde se instalaram os investimentos dos grupos estrangeiros, procurando aproveitar o baixo custo da mão-de-obra chinesa para promover a exportação de bens lá fabricados. As autoridades chinesas procuram agora reduzir a necessidade das migrações internas. Seu setor rural vem aumentando a produtividade, tanto para abastecer o seu gigantesco mercado interno como atender as necessidades dos seus vizinhos como as Coreias e o Japão.
Nem sempre se percebe que a China só voltou a crescer nas últimas décadas dentro de um plano bem traçado que começou com Deng Xaoping e seus seguidores, depois de um longo período de decadência e baixo crescimento daquele país. Os chineses já contavam com uma base histórica e cultural para tanto. Até a Revolução Industrial na Europa, a China liderava o mundo em diversos aspectos e houve um importante movimento de emigração de parte de sua população, uma diáspora como alternativa e eles conseguiram se consolidar como importantes empresários em muitas partes do mundo. São exemplos Cingapura, Hong Kong, Taiwan e até a Europa e os Estados Unidos. Hoje, todos eles retomaram seus contatos com a China, beneficiando-se com os relacionamentos existentes bem como domínio de suas tradições empresariais.
A expansão da economia interna chinesa não pode ser ignorada. De um baixo padrão de vida, passaram a contar num curto período de tempo com uma classe média de mais de 600 milhões de chineses, capaz de consumir mais que muitas economias desenvolvidas. Muitos investimentos estrangeiros recentes visam atender a demanda interna. E o padrão de poupança sempre foi elevado em toda a Ásia e os chineses são capazes de gerar os recursos indispensáveis para financiar as suas necessidades de investimentos, tanto em infraestrutura como em instalação industrial. Bem como com as aquisições de ativos no exterior, que seja de empresas com os recursos naturais indispensáveis para o seu abastecimento.
Sua capacidade de pesquisa e geração de tecnologia vem impressionando os especialistas. A absorção de conhecimentos técnicos dos seus recursos humanos chega a assustar os estrangeiros que procuram transmitir seus conhecimentos técnicos. As autoridades chinesas asseguram a retaguarda para suas empresas estatais ou privadas, notadamente na obtenção de seus objetivos no exterior.
Portanto, o círculo se fecha na China. Há uma forte vontade política, uma coordenação adequada de suas empresas com o governo, capacidade de financiamento e investimento, recursos humanos determinados, tecnologia e acesso aos recursos naturais indispensáveis, que dá prioridade à Mongólia e a África. Sempre é possível apontar desajustes e dificuldades naturais no desenvolvimento, mas as autoridades chinesas parecem dispostas a corrigir eventuais distorções com a rapidez indispensável para os seus interesses.
Poucos países se dispõem a enfrentar os chineses, dada a dimensão do seu mercado e capacidade de financiamentos de elevada monta. A China faz uso completo dos seus poderes, políticos ou econômicos, com determinação assustadora.
Apostar em suas dificuldades internas, encarando como uma bolha, pode ser muito arriscado. O que parece é existir uma desconfiança sobre as suas intenções, tanto políticas como empresariais, supondo-se sempre que eles só priorizam seus objetivos, sem constituir uma parceria razoável que seja conveniente para todas as partes. Ou que se considerem o interesse coletivo ou mundial, mesmo com concessões de algumas de suas pretensões nacionais.