Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Questões Cruciais Começam a Ser Discutidas

9 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: desconfortos para os candidatos, discussões necessárias, questões cruciais e incômodas

Como é compreensível, nas campanhas eleitorais as questões incômodas de um país e para os candidatos ao seu comando nem sempre são colocadas em pauta, pois eles temem perder eleitores na medida em que são obrigados a se definir sobre itens desconfortáveis. É comum que os candidatos em qualquer país coloquem somente posições genéricas que pouco informam sobre as políticas que serão adotadas. Assim, analistas e especialistas vão colocando, aos poucos, alguns destes assuntos para conhecimento de um público mais preocupado com aspectos fundamentais para a evolução futura do de uma economia.

Entre estas questões, figura a crucial questão dos elevados déficits em contas correntes, que na história brasileira tem sido o ponto de estrangulamento dos diversos períodos desenvolvimento. Ainda que as exportações venham evoluindo de forma razoável, o atual nível cambial vem provocando uma elevada expansão das importações e outros gastos no exterior, exigindo um influxo elevado de recursos externos. E as dificuldades internacionais que ressurgem podem estancar, novamente, este fluxo colocando economias emergentes numa situação difícil, exatamente no momento em que estão engajados num agressivo programa de implantação da infraestrutura e ampliação do mercado interno.

A superação destas limitações exige uma estratégia bem pensada, com a avaliação séria de todas as alternativas disponíveis. A tradição brasileira é de improviso nas políticas a serem adotadas, com um comportamento que procura ser o mais pragmático possível, dentro da evolução do quadro mundial.

Na realidade, diante do bloqueio da Rodada de Doha, e as limitações impostas pelo Mercosul, o Brasil não adotou uma posição mais agressiva com os chamados FTA – Free Trade Agreements e EPA – Economic Partnership Agreement, quer sejam bilaterais ou multilaterais. Nem veio adotando uma política que impusesse uma disciplina na utilização das divisas, tanto para as importações quanto para despesas como das viagens ao exterior, dentro de uma concepção muito liberal, hoje superada.

O jornal O Estado de S.Paulo edita um suplemento “Desafios do Novo Presidente”, colocando algumas questões de política externa, do ponto de vista de autores dos artigos que fazem parte desta publicação. Podem e devem ser discutidas, ainda que expressem suas opiniões.

Outras questões cruciais, como o intercâmbio com outros países emergentes, precisam ser discutidas, pois os desafios, como o do pré-sal, impõem necessidades de rápido desenvolvimento tecnológico, que acompanham a implantação acelerada da infraestrutura.

Muitas questões exigem corajosas reformas que vieram sendo postergadas, diante das limitações políticas. Mas, aos poucos, elas vão se tornando imperativas. Deve-se lembrar, novamente, que o desenvolvimento é um constante processo de superação dos obstáculos que vão se antepondo, mas seria conveniente que eles fossem mais discutidos, em profundidade.