Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Uma Noite em 67

1 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: debates e esclarecimentos, documentário, os Festivais da Record

O filme documentário de Renato Terra e Ricardo Calil tem os elementos indispensáveis para provocar recordações e polêmicas sobre o que aconteceu no famoso Festival da TV Record de 1967, inclusive nos seus bastidores. Há um reconhecimento de todos que apreciam a música popular brasileira que os festivais daquela emissora tiveram importância naqueles anos tumultuados dos finais dos anos 60, bem como na sua evolução futura.

Os depoimentos colhidos recentemente esclarecem aspectos importantes daqueles festivais. Este filme documentário está inspirado no livro de Zuza Homem de Mello, uma autoridade reconhecida sobre a música popular brasileira que participou daqueles eventos, e serviu como consultor deste trabalho. Personagens importantes com seus depoimentos, com uma perspectiva de mais de 40 anos, deixaram claras os seus dilemas e dúvidas.

Caetano Veloso Gilberto Gil

Paulinho Machado de Carvalho deixa claro que a intenção era obter o máximo de audiência, como qualquer programa de televisão, com figuras que encarnavam o “bandido, o herói, a mocinha, o pai da mocinha”, mas que acabou provocando um grande movimento. Fica claro que torcidas organizadas, até com vaias programadas, estavam providenciadas contra Roberto Carlos, ainda que algumas tenham sido superadas pelos artistas como Caetano Velloso. Outros tiveram suas carreiras prejudicadas, como Sérgio Ricardo.

A plateia, com elevado número de estudantes, tinha seus conflitos, pois desejando prestigiar uma bossa nova que ainda se consolidava, repudiava com preconceito o uso de guitarras elétricas, ou os que tinham ligação com a cada vez mais popular “jovem guarda”. O tropicalismo dos baianos, liderado por Caetano Velloso, tinha resistência internas de Gilberto Gil, e se voltada para introduzir as contribuições dos Beatles, que na verdade choca-se com o tropical, mas representava o novo. Chico Buarque e Edu Lobo, entre os mais moços, já eram considerados prematuramente conservadores, pois já conhecidos, pontificavam os bons moços da classe média alta da bossa nova.

As contradições são apresentadas pelos depoimentos divergentes como os de Caetano e Gil. Ou dos membros do júri. Isto tudo, mais esclarecido, permite avaliar porque a fórmula, que se tentou ressuscitar algumas vezes, não conseguiu o mesmo resultado.

Há que se reconhecer, no entanto, que tais festivais foram importantes para a popularização de todos os ricos ramos da música popular brasileira, desde o tradicional samba, a bossa nova, as contribuições regionais, dentro de um clima que procurava contestar as restrições impostas pelo obtuso autoritarismo. No contexto do que ocorria no conservador Reino Unido e nos movimentos em Paris que estavam modificando o mundo.