Complexas Questões Cambiais e Seus Efeitos
22 de setembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: desvalorizações do yuan, do euro e do dólar, efeitos cambiais no comércio internacional
Ninguém duvida que o câmbio tenha um forte efeito sobre os fluxos de comércio, e o senso comum é que a moeda chinesa está fortemente desvalorizada provocando o aumento de suas exportações, desequilibrando o comércio mundial. Mas um oportuno artigo da jornalista Marta Watanabe, publicada ontem no Valor Econômico, mostra que, no mínimo na comparação do primeiro semestre deste ano com relação ao mesmo período do ano passado, o euro desvalorizou 13% a mais que o dólar norte-americano, que também está com o seu valor em queda.
Num outro artigo no mesmo jornal, o jornalista Assis Moreira informa que o câmbio torna medidas antidumping contra a China ineficaz, com base nas informações da professora Vera Thorstensen, atualmente na Fundação Getúlio Vargas, mostrando que a confusão é bastante generalizada.
Os dados utilizados por Marta Watanabe discriminam a evolução das importações brasileira procedentes dos Estados Unidos, da União Europeia e da China, bem como o total, comparando os dois períodos. E diferenciam os volumes dos preços médios, agrupados por bens de capital, intermediários, consumos duráveis, não duráveis e o total, permitindo identificar que os europeus conseguiram efeitos interessantes no Brasil. Principalmente em bens de consumo e bens de capital, sendo que analistas como Julio Callegari adicionaram que havia uma maior capacidade ociosa para permitir esta performance na Europa, além da desvalorização cambial.
Os preços acabaram caindo mais acentuadamente entre os produtos europeus, ainda que as quantidades chinesas tenham aumentado mais.
Na realidade, mesmo estes poucos dados mostram que, além dos efeitos cambiais, existem outros fatores que também afetam estes comportamentos, não se podendo generalizar facilmente, ainda que as tendências de prazo mais longo possam ter um sentido mais claro.
É preciso notar, também, que as desvalorizações não ocorrem somente pelas medidas tomadas pelas autoridades, que possuem condições diferenciadas para as influenciarem. Assim, o sistema do FED concede maior flexibilidade para expansões de recursos e outras medidas estimuladoras da desvalorização do dólar norte-americano, enquanto os europeus dependem de entendimentos amplos de muitos países membros da comunidade.
Os chineses possuem um comando centralizado, enquanto o Brasil luta com as diferenças das taxas de juros internos com os externos, contando com possibilidades limitadas de atuação sobre o câmbio, que hoje depende muito mais dos fluxos financeiros internacionais que os volumes de comércio.
No meio deste cenário bastante complexo, sente-se o aumento das aplicações internacionais de pequenos poupadores, sem levar em consideração as possibilidades de variações cambiais, movidos pelas diferenças de obtenção de juros, e fortemente influenciados por fatores de psicologia coletiva.
Mais do que nunca, a política econômica passou a se tornar uma arte, que vai muito além do simples conhecimento da teoria econômica, tanto fiscal, monetária como cambial que, apesar de serem úteis, não esgotam todas as possibilidades.