Considerações de um Americano sobre a China
24 de setembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: comparações superficiais, jornalista-escritor americano na China, regimes políticos diferentes
Um artigo interessante de Thomas L. Frieman, colunista e escritor do The New York Times, foi publicado hoje no O Estado de S.Paulo com o título “Inevitáveis comparações entre EUA e China”. Ele foi convidado a participar da reunião do Fórum Econômico Mundial em Tianjin, recentemente realizado. Começa pela descrição de uma paródia apresentada na CCTV comparando uma criança norte-americana obesa, uma chinesa, uma indiana e uma brasileira numa corrida, onde a norte-americana fica para trás, pois comeu muito hambúrguer.
Ele informa que a comparação da China com os Estados Unidos começou quando tomou o trem em Beijing para Tianjin, numa distância de 120 quilômetros, que foi coberto em 25 minutos. E chegou a um monumental edifício construído em nove meses, que em Washington seria uma atração turística. Ele acha que só com uma moeda desvalorizada, mão de obra e capital suficientes e o autoritarismo chinês isto é possível.
Ele não deseja elogiar a China, mas estimular Estados Unidos, pois no momento aquele país está funcionando como o motor do seu crescimento. Não acha que o sistema norte-americano esteja errado e acredita que a sua democracia seja incapaz de gerar a determinação, a legitimidade, a unidade e a perseverança para os grandes feitos, sem o autoritarismo chinês.
Para que os Estados Unidos atinja este nível, ele acredita que o aperfeiçoamento de sua democracia possa gerar a determinação para objetivos de longo prazo, todos se esforçando para a mesma direção. O sistema chinês é autocrático, excessivamente corrupto e pouco à vontade com a economia do conhecimento, que exige liberdade.
Segundo o autor, Oville Schell, da Asia Society, acha que os Estados Unidos tinham esta capacidade, mas vendo a China atual, sentem-se incapazes, admirando os chineses que conseguem resultados concretos. Mas não querem viver num regime autoritário.
Isto significa, para eles, que precisam encontrar um meio de cooperação com a China, deixando de pensar que continuam os maiores. Ainda que estas considerações gerais sejam pertinentes, parece que perderam a perspectiva que foi traçada, por exemplo, por Joseph Needhan, de Cambridge, que com suas pesquisas mostrou que a China esteve na vanguarda das inovações mundiais por longo tempo, deixando de acompanhar o desenvolvimento tecnológico que ocorreu depois da revolução industrial.
A China sempre teve um sistema que muitos chamam de autoritário, preso dentro do conceito de democracia originário das revoluções francesas e norte-americana, de igualdade dos seres humanos. Eles, por influência do confucionismo, como muitos lugares da Ásia, possuem conceitos de hierarquia social onde os mais idosos, os professores e os pais são mais considerados que os demais, e nem por isto pode ser taxado necessariamente de não democrático.
Lamentavelmente, no conceito democrático francês e norte-americano, as diferenças de poder econômico também acabam provocando uma desigualdade entre os seres humanos, sendo o igualitarismo um ideal sempre perseguido. Parece conveniente relativizar estas considerações, admitindo que do atual sucesso chinês também existam lições a serem absorvidas, como as que foram proporcionadas pelo Ocidente. E elas não devem ser implantadas, sem adaptações, às realidades históricas de cada país.