Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Diferenças Entre Indústrias e Empreendimentos Agrícolas

8 de setembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: importância da pesquisa e do gerenciamento, Jari e Etanol da Mandioca, lições da Fordlândia, os fracassos de grandes empreendimentos agroindustriais

Observamos recentemente neste site os problemas enfrentados pela Fordlândia, em que pesem os grandes investimentos que lá foram feitos por ordem de Henry Ford, que nunca esteve neste gigantesco empreendimento, que consumiu muitos milhões de dólares até a sua entrega para as autoridades brasileiras, com muitos erros cometidos por aventureiros.

Sem uma pesquisa adequada, plantaram milhões de seringueiras derrubando criminosamente parte da floresta amazônica, quando estas plantas sobrevivem isoladas, protegidas por milhares de outras essências florestais. Transformadas em “plantations”, ficaram sujeitas aos fungos e lagartas que se multiplicaram pela ação dos insetos e contatos, que não existiam no Oriente, onde as produções comerciais em escala continuam existindo, e de onde o Brasil continua importando borracha, que era nativa da Amazônia. Elas determinaram o fracasso da Fordlândia, que não aprendemos adequadamente. Imaginou-se que poderia ser transformada num assentamento de pequenos produtores agrícolas, e eu a visitei na qualidade de presidente do Incra, quando já era um fracasso mesmo com esta mudança.

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Em Jari, outro entrepreneur, Daniel Ludwig, repetiu o erro com uma essência africana da qual pretendia produzir celulose e papel, ao lado de uma grande plantação de arroz, que também visitei para constatar suas dificuldades. Mas não foram somente os estrangeiros, pois quando da crise do petróleo a nossa Petrobras, por determinação do presidente Ernesto Geisel se meteu na aventura de produzir etanol da mandioca. Produzida eficientemente em pequena escala, mostrou-se um fracasso quando se tentou uma plantação de 10.000 hectares, com a multiplicação rápida de pragas.

Hoje, novamente, grupos estrangeiros voltam a investir na produção de cana para a produção de etanol, ou de outros produtos agrícolas. Multinacionais, mais experientes, deixaram as atividades agrícolas para ficar somente na comercialização, que pode ser feito em grandes escalas, na forma de commodities. As atividades rurais recomendam a presença dos proprietários, como diz o ditado: “o boi engorda com o olhar do dono”. As condições que cercam estas atividades, mais sujeitas às variações do clima, bem como de eventuais pragas, exigem uma grande velocidade na adoção de medidas de seu combate. Uma plantação de soja, quando começa a ser atacada por uma praga, exige a sua imediata pulverização com o uso de aviões agrícolas, sem a perda de um dia sequer.

Hoje, existem muitas pesquisas efetuadas por organismos como a Embrapa, com variedades e técnicas adequadas para as diferentes características das muitas regiões brasileiras. Elas recomendam que a floresta amazônica seja preservada, não só para atenderem os reclamos dos conservacionistas de todo o mundo, mas por que, na maioria de suas múltiplas regiões, os solos de aluvião não resistem às grandes culturas contínuas. E nas terras altas há que se examinar cuidadosamente as suas características, mantendo as áreas de reservas, como estabelece a legislação brasileira.

O máximo que se pode fazer são explorações racionais destas florestas, de forma sustentável, aproveitando parte de sua ampla biodiversidade, que necessita ser mantida sobre controle de brasileiros, não se permitindo a sua pirataria para o exterior, mas com rigoroso controle das pesquisas. Sem nenhum nacionalismo exagerado, mas porque se deve fazer tudo com o devido vagar, quando estamos trabalhando com o pouco conhecido, que continua sendo um patrimônio nacional até para as gerações futuras.

Até nas alegações do aquecimento global, quando se sabe que são exatamente as plantas novas que geram o oxigênio vital para a sobrevivência humana. Vamos deixar as arrogâncias de lado, e confessar a nossa ignorância.