Elogios no Exterior Que Podem Complicar
17 de setembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: Le Monde, suplementos especiais sobre o Brasil, The Economist
O Brasil tem sido objeto de suplementos e edições especiais, como o que acaba de ser publicado pelo Le Monde francês. E artigos do The Economist inglês, importantes veículos de influência internacional que constatam a atual boa situação do país, com algumas ressalvas. Tudo isto pode massagear o ego dos brasileiros, mas também ajuda a provocar um perigoso “boom” de ingressos de recursos de moedas estrangeiras, de curto prazo e voláteis, que acabam valorizando exageradamente o real, entre outros inconvenientes.
As economias emergentes como a China e a Índia estão em moda, e a do Brasil é entendida como o que pode, nas próximas décadas, apresentar crescimentos que foram modestos até o momento, mas já atinge a mais de 7% neste ano. Com a estabilidade política, abundância de recursos naturais, mesmo com seus muitos problemas, apresenta uma perspectiva brilhante para o futuro.
Ilustração do especial do jornal Le Monde, sobre o Brasil. Foto: RFI
Tudo isto é uma grande verdade e investimentos diretos de estrangeiros vêm aumentando lentamente, bem como o comércio internacional, ao lado da ampliação do mercado interno. Mas, existem providências como a melhoria da infraestrutura, educação e pesquisa, saúde e previdência social, preservação do meio ambiente, equilíbrio fiscal, desenvolvimento industrial e muitos outros aspectos que precisam ser pensados a longo prazo. Para que este desenvolvimento seja sustentável.
Os recursos financeiros de curto prazo e especulativos não interessam ao país e estão sendo atraídos pelos exagerados diferenciais de juros pagos no Brasil com os vigentes no exterior. Além dos profissionais que se beneficiam com os seus fluxos, pequenos investidores estão sendo seduzidos pelos ganhos fáceis, nem sempre com a devida cautela.
Existem fortes tendências para flutuações cambiais, pois o dólar norte-americano está se desvalorizando, ao mesmo tempo em que a China sofre pressões para valorizar a sua moeda, visando maior equilíbrio no comércio internacional. Os japoneses interferem no mercado cambial, procurando combater o exagero da valorização de sua moeda, como o Brasil, com menos liberdade, tenta fazer.
Se nada ficar acomodado nos câmbios dos principais países, pode haver um surto de medidas protecionistas que venham a prejudicar o atual processo de globalização que vem estimulando o desenvolvimento mundial. As preocupações com a estabilidade do sistema financeiro internacional começam a impor medidas para evitar problemas sistêmicos, como o que ocorreu recentemente.
É o momento oportuno para o Brasil pensar e conseguir um mínimo de consenso para os seus planos de longo prazo, sem se concentrar nos ganhos de curto prazo, que proporcionam ganhos para alguns, mas acabam prejudicando a grande maioria de todas as populações, brasileira como de parceiros no exterior.