Ichi-go, Ichi-e: Momento Único do Encontro de Uma Vida
23 de setembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: conceito zen-budista, fatalismo, transitoriedade das coisas | 10 Comentários »
Aglutinando ideogramas diferentes, a língua japonesa tem a peculiaridade de construir frases sintéticas densas, com profundo sentido inerente à cultura e ao espírito japonês. Como a expressão “ichi-go, ichi-e”, que transmite um ideal estético ligado aos conceitos zen-budistas e à consciência da transitoriedade das coisas. Literalmente significando “um momento, um encontro”, sua conotação, porém, tem nuances e implicações que transcendem explicações ou traduções.
Regidos por estações de ano bem definidas em que a natureza cambiante faz o mundo flutuar numa constante mutação de temperatura, sons, cores, aromas e gostos, os japoneses tentam se apegar ao efêmero, procurando usufruir ao máximo o que cada estação oferece ao tato, aos olhos e ouvidos, ao olfato e paladar. Ichi-go, ichi-e traz à consciência a proposição de viver ao máximo cada dia, hora, minuto e segundo. Fazer de cada momento um encontro único para ser vivido bem e intensamente.
Esse pensamento zen tem muito a ver com o chadô, cerimonial de chá japonês. Apesar de o ritual continuar o mesmo desde há séculos, em cada cerimônia deve-se concentrar a atenção e o espírito naquele momento, com aquelas pessoas e objetos, naquele ambiente particular. Então será criada uma experiência original e única, que nunca mais será reproduzida exatamente daquela maneira, ainda que no mesmo local, com as mesmas pessoas e os mesmos recipientes. Nas artes marciais, esse conceito também se acha muito arraigado. Cada forma, kata, será praticada como se fora a primeira e única, com a máxima concentração e empenho, ainda que obedeça a regras tradicionais antigas, mil vezes praticadas e a serem praticadas. A mesma postura se observa nas artes como ikebana, shodô (caligrafia), sumiê (pintura); e na contemplação da natureza – hanami (flores), tsukimi (lua).
Ichi-go, ichi-e sugere que essa prática seja observada também no nosso dia a dia: um encontro banal, mesmo com um amigo a quem vemos com frequência, poderia ser encarado como momento especial. É prazeroso tratá-lo com atenção e consideração para que ele possa se despedir de nós com o coração aquecido, sentindo pena de nos deixar. Ir se despedindo e já ir “sentindo saudade daquele instante” – nagori oshiku.
A jornalista Lori Matsukawa, em matéria publicada no semanário The North American Post, de Seattle, WA, também tem sua versão para ichi-go, ichi-e: não deixar a chance escapar quando o destino bate à nossa porta. Nas coisas mais rotineiras da nossa vida. Por comodismo, falta de iniciativa ou pura preguiça, não raramente, desdenhamos convite para um evento, uma reunião, um desafio. Não seria esse o momento único de um encontro que talvez pudesse suscitar aberturas decisivas e novos horizontes? No mínimo sairíamos enriquecidos da experiência. Liderança de destaque na comunidade de Seattle, o que Lori Matsukawa quis dizer é que deveríamos nos engajar continuamente num ideal, e quando nada estiver acontecendo, compete a cada um de nós fazer acontecer o seu ichi-go, ichi-e. Aqui, agora: transformar nossa vida e nosso entorno, quiçá o mundo.
Muito legal Paulo.
Caro Fre Zaragoza,
Muito obrigado pelo comentário. O depoimento deve-se à Naomi Doy.
Paulo Yokota
olá!
obrigada pela explicação! estou estudando o teatro Noh e cheguei ao seu site.
muito bom!
Cara Aline,
Muito obrigado pelo comentário pelo artigo postado pela Naomi Doy. Estou pedindo a ela acrescentar algo.
Sobre o Noh, como já deve ser do seu conhecimento, as expressões faciais são as mesmas, de uma máscara. Mas os gestos tem um simbolismo importante, e somente pessoas especializadas podem compreender totalmente este tipo de teatro. Por ser minimalista, também apresenta algo de Zen, e cada detalhe é de suma importância. Poucos têm a oportunidade de apreciar um destes espetáculos, mesmo em Tóquio. E algumas destas mascaras, caras, elaboradas por refinados artistas, são objeto de desejo de muitos intelectuais.
Paulo Yokota
Paulo Yokota
Muito bonito!
Cara Carolina,
Obrigado pelo seu comentário.
Paulo Yokota
Hoje pela manhã minha esposa me perguntou o significado de “ichi go ichi e”
Apesar dessa expressão constar no livro intitulado “KIHON” do meu Sensei Yoshihide Shinzato, eu ainda não havia prestado a devida atenção ao seu profundo significado.
Agora, depois de 40 anos de prática de Shorin-Ryu Karate-Do e Kobu-Do, acredito que vou conseguir melhorar consideravelmente a minha técnica e a de meus alunos…
Muito obrigado…
Caro Afremon Bragança,
Este artigo foi elaborado pela Naomi Doi que não está mais conosco. Vou procurar transmitir a ela suas ótimas observações.
Paulo Yokota
Muito lindo e rico!
Cara Tatiana Vicente Antunes,
Obrigado pelo comentário.
Paulo Yokota