Japão Interfere no Seu Câmbio
15 de setembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: China, Estados Unidos, interferência no câmbio, japao
Dada a extrema valorização do yen japonês que está afetando as exportações japonesas, ao mesmo tempo em que aumenta as suas importações, depois de muito tempo, forçou as autoridades do Japão a entrarem no mercado. Isto ocorre para tentar compensar a extrema desvalorização do yuan chinês como do dólar norte-americano. Informam que foram adquiridos, somente num dia, mais de US$ 13 bilhões, e ainda assim a cotação que estava em torno de 82 yens passou para 85 por dólar, diante da expectativa que tal política tenha continuidade.
A pergunta que se faz é se as autoridades brasileiras não poderiam fazer algo semelhante. Muitos aguardavam que o real brasileiro terminaria o ano em torno de 1,80 e 1,90, mas está em torno de 1,70 podendo chegar a 1,60 por dólar norte-americano. As autoridades brasileiras vêm adquirindo dívidas estrangeiras num volume incapaz de alterar as tendências atuais do câmbio, apesar de estarem preocupadas com a competitividade internacional das empresas brasileiras.
O que impede que o Brasil adote uma política como a do Japão? É claro que não se trata somente do câmbio nem do comércio exterior, pois os fluxos financeiros mundiais superam muitas vezes as transações comerciais, e as autoridades temem interferir neste mercado que pode retrair os investidores e financiadores de que o país continua necessitando.
Para que estas aquisições de moedas estrangeiras ocorram, em volume significativo suficiente para alterar as tendências cambiais, é preciso se preocupar com o aumento dos reais em circulação, que podem provocar uma tensão inflacionária. Para neutralizar este risco, é preciso que as autoridades lancem títulos da dívida pública, para enxugar os recursos em circulação, o que, no caso brasileiro, significa um custo elevado.
No caso japonês, os rendimentos que podem ser obtidos com as aplicações de suas reservas estrangeiras são mínimos, mas também os custos da dívida pública são baixos. No caso brasileiro, as reservas rendem pouco, mas os custos da dívida pública são elevados, tendo o governo que arcar com as diferenças, restringindo o campo de manobra.
Evidentemente, existem outras medidas que podem ser adotadas, mas todas apresentam algum inconveniente. O que seria mais adequado é um acordo entre os principais países, como dentro do G20, de forma que haja maior equilíbrio no mercado mundial. Mas as resistências são elevadas, começando com a poderosa China e a redução do poder de dissuasão dos norte-americanos.
Sem que medidas cambiais sejam tomadas, há uma possibilidade crescente que medidas protecionistas voltem a ser aplicadas em muitos países, que é um mal maior, pois reduziria as vantagens da atual globalização.
Os países emergentes, como o Brasil, precisam pensar de forma mais séria sobre a política industrial se desejar continuar o seu desenvolvimento, participando ativamente do comércio internacional sem impor maiores restrições aos lamentáveis fluxos financeiros externos.