Vale Adquire Navios Produzidos na China
11 de setembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: com financiamentos, construção naval brasileira, navios adquiridos na China, usos
A Folha de S.Paulo noticia, num artigo do jornalista Agnaldo Brito, que a Vale obteve US$ 1,2 bilhões para adquirir 12 navios chineses graneleiros com capacidade para transportar 400 mil toneladas cada. Esta notícia, que poderia ser considerada alvissareira, gera um sentimento de frustração, pois no passado estes navios teriam condições de serem construídos nos estaleiros brasileiros, e não importados da China.
Utilizando chapas grossas que poderiam ser fornecidos pelas siderurgias brasileiras, as empresas chinesas usam minério nacional e empregam operários chineses que tomam o emprego de brasileiros, pois os estaleiros aqui instalados deixaram de ser competitivos no mercado internacional. O Brasil já contou com a maior indústria de construção naval, com capacidade de lançar até dois milhões de toneladas TDW anualmente.
No passado, tais navios exportavam minérios brasileiros e tinham como carga de retorno petróleo importado do Golfo Pérsico, como parte do mais eficiente sistema logístico existente no mundo. Hoje, com a autossuficiência brasileira de petróleo, possivelmente a Vale importará carvão mineral chinês para alimentar as siderurgias brasileiras, pois seria um dos poucos produtos que apresentam uma carga significativa de retorno para viabilizar economicamente o uso de tais navios graneleiros.
A falta de continuidade de uma política industrial no Brasil sucateou a nossa indústria de construção naval, que agora está sendo recuperada para atender as necessidades decorrentes do pré-sal. Ainda existe a necessidade de apreciáveis fundos para a Marinha Mercante e plataformas para as explorações petrolíferas.
Um país com economia emergente que pretende ser uma potência intermediária não pode deixar de contar com capacidade para atender estas demandas de uma Vale que, mesmo atuando globalmente, continua sendo uma empresa brasileira, recebendo substanciais suportes governamentais.
Precisa conceder maior prioridade para a exportação de produtos industrializados ou semi-industrializados, do que matérias-primas minerais ou agrícolas. São acréscimos de valor adicionado, com a criação de empregos num setor de alta tecnologia, vital para a continuidade do desenvolvimento nacional.
Navios deste porte necessitam de portos especiais como o de Tubarão e Itaquí para serem operados, pois, além de sua dimensão, requerem portos com grandes profundidades, equipados com carregadores de elevada capacidade. O mesmo tem que ocorrer do lado chinês, que agora conta com terminais específicos projetados mar afora, pois o litoral chinês não conta com muita profundidade.
Tais portos necessitam de uma retaguarda que os brasileiros possuem, além de um sistema logístico ferroviário para o rápido transporte de volumes apreciáveis de minério. Se o carvão mineral chinês será a carga de retorno, os chineses precisam construir ferrovias para tanto, pois suas rodovias já apresentam congestionamentos monstros, como já noticiamos neste site.