A China Continua Incomodando Muita Gente
17 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: Estados Unidos e Japão, o que acontece no Brasil, principais incomodados, reações internacionais à política chinesa | 1 Comentário »
Quem acompanha o noticiário internacional sabe que a China provoca reações contraditórias com o recente e acentuado aumento do seu intercâmbio internacional, nem sempre com respeito às regras existentes. Os Estados Unidos, principalmente no seu Congresso, apresentam medidas de retaliação ao que consideram competição desleal em organismos como a OMC, mas ao mesmo tempo provocam uma desvalorização semelhante à chinesa em seu câmbio. Os japoneses reclamam tanto das pretensões territoriais chinesas quanto as de seu câmbio, mas aumentam seus investimentos para utilizar a mão-de-obra mais barata da China, ao mesmo tempo em que aumentam suas importações, inclusive de legumes. No Brasil, começam as reações com relação aos investimentos chineses que procuram assegurar o abastecimento dos produtos que necessitam, mas ao mesmo tempo conta com o seu mercado para a exportação de suas principais commodities.
Observando os principais jornais destes grandes parceiros dos chineses, nota-se que há uma verdadeira campanha contra esta “invasão” chinesa, tanto no Nikkei japonês, Folha de S.Paulo brasileiro como os The New York Times, Washington Post ou Wall Street Journal norte-americanos, para citar somente os mais conhecidos.
A Folha de S.Paulo, por exemplo, só na sua edição de hoje, publica artigos longos como “Governo estuda impor limites a investimento chinês”, “Brasil se espelha nos EUA contra a China”, “EUA ameaçam levar energia ‘verde’ chinesa à OMC”, “Austrália limita os chineses, que têm passe livre apenas na África”, “China tem nova carta pró-democracia”, entre os mais importantes. Certamente há uma forte influência do competente jornalista Raul Juste Lores, que foi correspondente em Beijing, conhecendo muito bem a China e atualmente é o editor do caderno Mercado deste jornal.
Pode-se concordar com quase tudo que consta destes artigos bem elaborados, mas sempre cabem algumas ressalvas. A restrição brasileira para a aquisição de terras cultiváveis ou concessões de jazidas não se aplica somente aos chineses, mas a qualquer estatal estrangeira, pois acaba afetando as relações entre países soberanos. Quando fui autoridade brasileira, encerrei a atividade de agências governamentais japonesas no Brasil que tinham imóveis neste país, que exerciam atividades de interesse brasileiro, pois só se admitem os que são utilizados pelas embaixadas e consulados, com direitos de extraterritorialidade. É preciso evitar subterfúgios de chineses e outros estrangeiros que utilizam “testas-de-ferro” para burlar a legislação brasileira, bem como controles frouxos de algumas agências brasileiras.
Não se pode admitir privilégios nas exportações de entidades que, mesmo com estrangeiros minoritários, podem promover transferências ilegais de resultados para o exterior. Quando existem estatais envolvidas, ou assistências creditícias oficiais, é preciso que as atenções sejam redobradas, apresentando-se as queixas nos fóruns internacionais, ainda que os interesses comerciais sejam importantes. Não se pode transigir com a soberania nacional.
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