Divergências Internas na China
17 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: artigo da Folha de S.Paulo, avaliação de Sun Xupei, o caso de Prêmio Nobel Liu Xiaobo, pronunciamentos do premiê Wen Jiabao
O jornalista Fabiano Maisonnave, correspondente da Folha de S.Paulo, expõe as divergências que estariam ocorrendo na China como indícios de que haveria posições conflitantes entre dirigentes daquele país. Mas a sua entrevista com Sun Xupei, ex-diretor de investigação do Centro de Pesquisas Jornalísticas na Academia Chinesa de Ciências Sociais, esclarece parte desta questão, pois não se trata da primeira vez que algo semelhante acontece entre os dirigentes chineses.
A Folha de S.Paulo destaca a frase do premiê: “não só devemos avançar na reforma do sistema econômico, mas também na do sistema político. Sem uma reforma política, a China pode perder o que já conseguiu por meio da reestruturação econômica” que teria sido censurada para divulgação interna. Ele teria expresso, também, numa entrevista à CNN, que: “os desejos e a necessidade da população por democracia e liberdade são irresistíveis”.
Premiê chinês Wen Jiabao
Todos sabem que, mesmo dentro do rígido sistema político chinês, estas evoluções vieram ocorrendo ao longo de sua história, com momentos de pendência oa para algumas tendências dominantes, ora para posições contrárias. No período final de Mao Tsetung, com o predomínio da Revolução Cultural, posições como o de Deng Xiaoping poderiam ter desaparecido. Mas a sua retração permitiu sua sobrevivência, vindo depois a provocar uma desconcentração marcante, com a disseminação do uso dos mecanismos de mercado. Só para citar o episódio mais evidente.
Admite-se que as falas do premiê Wen Jiabao refletem uma constatação da dura realidade. A melhoria do padrão de bem-estar da população acaba desembocando na aspiração pela liberdade política. Mas ainda predominam as resistências por tais mudanças, que deverão ocorrer ao longo do tempo, com muita cautela para evitar a desagregação que ocorreu na antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), que a maioria dos chineses teme.
A concessão do Prêmio Nobel ao dissidente Liu Xiaobo acaba desenvolvendo pressões internas e externas na China, e a experiência pessoal que tive naquele país é que estes assuntos são mais discutidos internamente do que se supõe no exterior. Os chineses parecem dotados de uma grande autoconfiança sobre o retorno de seu país à posição de liderança mundial, com a dimensão geográfica, econômica e política. Os incidentes que acontecem ao longo deste processo parece-lhes irrelevantes, sendo mais importante o resultado final.
Não me parece que há uma rigidez política a ponto de acabar resultando num processo revolucionário, neste momento, principalmente enquanto a economia chinesa continuar proporcionando melhoria de bem-estar para uma ampla camada de sua população. E é exatamente por isto que entendem que o seu atual câmbio desvalorizado será só lentamente alterado, para manter o nível de novos empregos para os chineses, ainda que isto custe para o resto do mundo.
Estes processos políticos são desta natureza, de movimentos pendulares, como um geopolítico brasileiro já nos chamava a atenção há muitas décadas passadas.