Gengis Khan e a Formação do Mundo Moderno, de Jack Weatherford, tradução de Jorge Ritter, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2010.
13 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: formação do mundo moderno, Gengis Khan e sua contribuição, revisão histórica do Império Mongol
O autor deste livro, Jack Weatherford, é especialista em povos tribais, ocupa a cadeira de Antropologia, em Macaleste College, em St. Paul, Minnesota, USA. É Ph.D. pela Universidade da California, Doutor Honorário da Chinggis Khan College, Mongólia. Domina o idioma mongol moderno e junto com uma equipe de acadêmicos mongóis pesquisou por muitos anos, in loco, a vida de Gengis Khan e suas conquistas, que formou um Império que ia da Europa até a China, passando pela Pérsia e a Índia, em 1206.
Este foi um livro publicado em inglês em 2004 e agora é colocado à disposição dos leitores em português. Ele merece uma leitura cuidadosa, pois reformula completamente a imagem de um povo bárbaro e sanguinário que com suas hordas conquistou o mais amplo Império, maior que o dos romanos. Segundo o autor, Gengis Khan destruiu o sistema feudal de privilégios aristocrático e linhagem, provocou as condições para a Renascença, construiu um sistema baseado no mérito individual, na lealdade e competência. Organizou a maior zona de livre comércio da história. Baixou os impostos e aboliu-os para médicos, professores, igrejas e instituições educacionais, instituiu o censo regular e o primeiro sistema postal. Submeteu as autoridades à lei, tanto quanto a um pastor, concedeu liberdade religiosa em todo o Império e propiciou imunidade diplomática aos emissários de nações hostis ao seu.
Com a tradição nômade, Gengis Khan não deixou nenhum castelo, monumento ou livro, mas usava o Estandarte do Espírito, feito da crina dos melhores cavalos, que os mongóis acreditavam que continha o deste líder depois de sua morte, cercada de mistérios e que chamavam de “subida aos céus”. Grande esforço teria sido feito ao longo de séculos para manter em segredo as circunstâncias de sua morte, bem como o local em que ele teria sido enterrado, perto de sua terra natal.
As cuidadosas pesquisas acadêmicas do autor se baseiam parte em depoimentos de autores antigos, como o cientista inglês Roger Bacon, no século XIII. Goffrey Chaucer, pai da literatura inglesa, em Contos de Cantuária, dedica a história mais longa a Gengis Khan. O historiador persa Rashid al-Din se refere a uma crônica autêntica no idioma e alfabeto mongol, um século após a sua morte.
As únicas construções dos mongóis eram as pontes que facilitavam os seus rápidos deslocamentos. O seu comércio não era somente de mercadorias como as que utilizavam a Rota da Seda, reativada durante o seu Império, mas de idéias e conhecimentos. Promoviam o intercâmbio das tecnologias disponíveis na época, com o envio de mensageiros culturais.
No século XX, segundo o autor, dois acontecimentos permitiram desvendar alguns mistérios e corrigir parte da história de Gengis Khan. O primeiro teria sido a decifração da cópia de um documento considerado a História Secreta dos Mongóis, que utilizava uma série de artifícios para dificultar a sua compreensão. A feita pelo norte-americano Francis Woodman Cleaves foi publicada pela Harvard University Press em 1982. O segundo foi em 1990, com o colapso do comunismo e da ocupação soviética da Mongólia, quando o autor teve a possibilidade de iniciar as longas pesquisas sobre o papel dos povos tribais no comércio da Rota da Seda.
Ele trabalhou ao lado do arqueólogo mongol Dr. Kh.Lkhagvasuren, que tinha acesso às informações reunidas pelo mais importante arqueólogo, Dr. Kh.Perlee; do coronel Kh.Shagdar que pesquisou sobre as estratégias militares de Gengis Khan; do cientista político D.Bold-Erdene que analisou as técnicas políticas de Gengis Khan e do geógrafo O.Sukbaatar, que estudou um milhão de quilômetros da Mongólia, considerada Área Altamente Restrita tanto pelas antigas autoridades mongóis como pelos soviéticos.
O livro apresenta uma série de informações que merecem atenção, pois ele reformula muito do que se conhece sobre a história da Ásia, principalmente do papel da Mongólia.