Lições de Arte da Política na China
25 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: antepassado, carreira administrativa, educação, lições de Xi Jinping, linha de menor resistência, luta de facções, revolução cultural
A política não é ciência e sim uma arte em qualquer parte do mundo, mas principalmente em regimes mais fechados e de grande diversidade de interesses, regionais e econômicos, como na China. Xi Jinping mostrou-se um mestre nesta arte, tendo preenchido todas as condições para ser escolhido como o mais provável líder a ocupar a próxima posição de presidente, secretário-geral do Partido Comunista e comandante militar máximo da gigantesca China. Um importante artigo do escritor e jornalista Geoff Dyer, chefe da sucursal do Financial Times em Beijing, fornece muitas informações importantes sobre ele.
Xi Jinping é filho do líder guerrilheiro Xi Zhongxun que chegou a vice-presidente da China, mas que foi perseguido durante a Revolução Cultural. Xi Jinping foi enviado para trabalhar no meio rural em Shaanxi por muitos anos durante a sua juventude. Lutando por todos os meios, até esportivamente numa espécie de luta livre chinesa, conseguiu manobrar e voltar para estudar engenharia química, ciência social e direito na prestigiosa Tsinghua University, frequentada por muitos da elite chinesa.
Recebeu depois a missão para atuar na Província de Hebei, onde havia uma resistência para a utilização dos mecanismos de mercado, e criou com sucesso o movimento “Journey to the West”, visando interiorizar o desenvolvimento chinês. Ele foi transferido para a Província de Hebei na desenvolvida costa leste chinesa, onde se tornou governador e conquistou a fama de um líder pragmático que conseguia implementar reformas, conceito que reforçou atuando na Província de Zhejiang. Passou um curto espaço de tempo também em Xangai, a principal metrópole chinesa. Acumulou, portanto, experiências no meio rural e nas grandes cidades, por longos 25 anos, sempre de forma discreta na imprensa, como é conveniente na China.
Mesmo assim, possivelmente como consequência da resistência criada pela desigualdade social na China, ele não obteve sucesso na tentativa de ser eleito como membro do poderoso comitê central do Partido, por ser considerado da elite, episódio do qual tirou lições. Encontrou tempo para se casar com Peng Liyuan, uma famosa cantora de músicas folclóricas com destaque na mídia, mas ele se manteve low profile. Acumulou muitos trabalhos discretamente, ganhando o respeito dos líderes chineses mais hierarquizados, como político e administrador experimentado.
Recentemente, a política chinesa que sempre teve correntes diversas está dividida entre dois grandes grupos, sendo o de Xangai formado pelos seguidores do antigo presidente Jiang Zemin, que se antepõe aos seguidores do atual presidente Hu Jintao, que tem expressado tendência mais reformista, censurados internamente na China. Xi Jinping conseguiu manter-se com bom trânsito entre os dois grupos, sem participar explicitamente de nenhum dos dois, o que permitiu a sua escolha, ainda que não fosse a primeira opção do atual presidente Hu Jintao. Ele recebeu missões de viagens pelo exterior, inclusive no Brasil, onde contratou o empréstimo chinês de US$ 10 bilhões para a Petrobras, como vice-presidente, possivelmente para somar algumas experiências internacionais no seu currículo.
Mas até Xi Jinping assumir a posição de líder máximo da China, ainda existem muitas negociações políticas a serem consolidadas nos próximos dois anos, para os quais ele conta com todas as qualificações necessárias, como escreveu recentemente Geoff Dyer.