Curso de Cinema Para Leigos
3 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: aulas da Teruyo Nogami, exemplos dos Sete Samurais, no livro À Espera do Tempo: Filmando com Kurosawa, Trono Manchado de Sangue e Ran
No magistral livro “À Espera do Tempo: Filmando com Kurosawa”, sua autora Teruyo Nogami dá um verdadeiro curso de cinema para os leigos, descrevendo as funções exercidas pelos diversos profissionais na feitura de um filme, dentro de um cenário de uma grande empresa cinematográfica como a Toho, que ela descreve como um paraíso. Ela utiliza os bastidores dos consagrados filmes Os Sete Samurais, Trono Manchado de Sangue e Ran, todos dirigidos por Akira Kurosawa, que desempenhava o papel de comandante geral da equipe.
As aulas começam no chafariz que havia no estúdio da Toho, onde famosos diretores como Yasujiro Shimazu, Mikio Naruse, Sadao Yamanaka, Masali Itami, Kon Ichikawa e outros trocavam ideias e se inspiravam para a elaboração de suas obras-primas. Foi onde Teruyo Nogami foi contratada como continuista, que tem a função de manter a coerência de muitas cenas elaboradas em dias diferentes, além de outras atividades, como de controle da duração do filme. Ela relata o erro que cometeu, tendo que se desculpar com o temido Kurosawa quando filmava A Fortaleza Escondida. Uma trouxa de tecido que estava no ombro direito de um ator numa cena apareceu num close no ombro esquerdo, o que exigia uma refilmagem e ela se preparou para a “bronca” do diretor. Foi salva pela atenção concentrada de Kurosawa no jogo de mah-jong, do qual participava, relevando a desculpa solicitada.
Ilustrações das páginas 111 e 118 do livro
O cameraman hoje tem o pomposo nome, segundo a autora, de diretor de fotografia e é o responsável pelas qualidades das imagens, ponto fundamental de qualquer filme, exigindo uma coordenação como mulher e marido, com o diretor da obra. Ela relata, para exemplificar, as dificuldades da luz no pôr-do-sol na filmagem de Os Sete Samurais abrangendo toda a aldeia, que exigiu a desmobilização de toda a equipe até o dia seguinte, pois o cameraman perdeu o momento adequado na discussão com o Kurosawa, que era muito exigente e ríspido.
O diretor de arte precisava construir os sets com a imponência que Kurosawa exigia e o tornou famoso. A autora cita o castelo negro que foi construído para o Trono Manchado de Sangue. E o San-no-jo utilizado para o incêndio que aparece no Ran, que o diretor considerava tomada única, com o custo de US$ 4 milhões (valores atuais), filmado em muitos ângulos. Com muito detalhe, Teruyo Nogami descreve a atuação do ator Tatsuya Nakadai, cuja maquiagem para o personagem Hidetora exigia três horas. Com o castelo em chamas, Nakadai provocou um suspense em toda a gigantesca equipe, pois demorou um pouco para aparecer em cena. As filmagens que consumiram duas horas e meia e 850 metros de filme apareceram na tela somente por dois minutos e cinco segundos.
A função de assistente de direção é descrito pela autora utilizando o episódio da Rapsódia em Agosto, quando tiveram a trabalhosa tarefa de utilizar milhares de formigas, contando com a ajuda de especialistas biólogos. Passaram por uma verdadeira epopeia para as fazerem caminhar como desejavam filmar, o que hoje pode ser feito por computação gráfica. Os assistentes eram os que comandavam as diversas equipes, segundo as ordens do diretor.
Muitos outros detalhes estão descritos de forma emocionante, exigindo que os interessados leiam o livro citado com o cuidado que ele merece.