Eleição no Brasil: Além das Notícias da Imprensa
1 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: algumas lições possíveis, nem sempre elas constam dos noticiários, todas as eleições refletem tendências
Este segundo turno das eleições brasileiras, como todos os demais pleitos, apresenta algumas tendências e revelam realidades que nem sempre constam das análises usuais da imprensa. Sempre houve no Brasil uma tentativa de equilíbrio, concedendo maior poder político às regiões que não possuem poder econômico. Um sinal claro desta tendência está nos limites das bancadas no Congresso, que apresentam um máximo de 70 deputados federais para São Paulo, e um mínimo de 7 para cada Estado, por menor que seja. E pelo fato do País ser uma Federação, todos os estados possuem 3 senadores cada.
Mesmo no setor privado, sempre se evita que a presidência da CNI (Confederação Nacional da Indústria) seja ocupada por um empresário paulista, tendo predominado os nordestinos, mesmo que suas empresas não sejam expressivas do ponto de vista nacional. Hoje, está ocupada por um mineiro.
Os tucanos de São Paulo são considerados, por muitas correntes do PSDB, como os que permaneceram no poder por um período demasiadamente longo, com a Presidência de Fernando Henrique Cardoso. Eles e outros paulistas encontram naturais resistências das lideranças políticas de outros Estados, não só de Minas Gerais que teve o seu máximo líder, Aécio Neves, preterido em suas pretensões. Ele solicitava uma prévia dentro do partido, para definir o candidato partidário, sabendo das tendências de tucanos de outros Estados, mas acabou atropelado por José Serra, que utilizava o argumento que estava bem cotado nos levantamentos das agências de opinião pública. Isto explica parte da baixa votação que Serra obteve naquele estado, mesmo com o esforço que foi efetuado no segundo turno.
Em política, todos sabem que os concorrentes mais próximos são sempre os que podem acabar prejudicando os candidatos, de qualquer partido. Assim como na base governista existem resistências veladas às algumas correntes do PT, também existem na oposição, pensando nas possibilidades futuras de alguns grupos.
Muitos se mostram surpresos com o discurso de agradecimento da presidenta eleita Dilma Rousseff, que entendiam que seria protocolar. No entanto, ela acabou traçando os aspectos fundamentais do programa que pretende executar. Eles definem as suas prioridades, além dos naturais acenos no sentido de um amplo entendimento, pois será a presidenta de todos. O que pode ter diferenciado foi a sua tentativa de traçar uma visão de longo prazo, importante dentro de um quadro de agentes procurando resultados imediatos.
Muitos analistas não atentaram que, como profissional que atuou na administração estadual e também na federal, no setor de minas e energia, acabou adquirindo a importante característica de pensar num prazo mais longo, como os projetos destas áreas exigem para maturar. Esta visão estratégica pode ser importante na concorrência do Brasil com outros países emergentes.
Não se pode subestimar a experiência que ela acumulou durante a sua carreira ponteada de dificuldades, sob a alegação de que somente participações em pleitos eleitorais habilitam os candidatos para as negociações políticas. Como no caso do Lula da Silva, não é a educação formal que proporciona qualificações para a liderança, principalmente quando na democracia é o voto popular das amplas camadas mais modestas que determinam os resultados.
É preciso dar um crédito de confiança a ela que chegou até o topo, pois poucos o conseguiram. Afinal, o sucesso dela vai contribuir para a melhoria da situação de todos os brasileiros.