Financial Times Critica Política do FED
7 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: diferenças de Lula e Obama, excesso de liquidez, falta de confiança, objetivos cambiais
Um interessante artigo publicado no Financial Times e reproduzido na Folha de S.Paulo de hoje, com o título “Falta de confiança na economia dos EUA ameaça plano do FED”, que adota uma posição semelhante ao do professor Delfim Netto no Brasil, mostra que o aumento de liquidez de US$ 600 bilhões provocado pelas autoridades monetárias norte-americanas corre o risco de somente provocar a desvalorização do dólar, sem estimular a economia daquele país.
Na realidade, tanto as empresas norte-americanas como os bancos estão com excedentes de recursos, não havendo necessidade de recursos adicionais para estimular seus investimentos, que poderiam aquecer um pouco a economia daquele país. Eles não investem suas disponibilidades por não estarem confiantes não só no governo de Barack Obama como na ativação do consumo nos Estados Unidos, num horizonte razoável do futuro.
Quando da recente crise mundial, o presidente Lula da Silva entendeu rapidamente que se os consumidores brasileiros ficassem pessimistas a crise poderia se aprofundar, afetando os produtores brasileiros. Fez um apelo à população para que continuasse a consumir para preservar os seus empregos, no que conseguiu resultados brilhantes, dado o seu carisma.
Muitos países desenvolvidos comprimiram seus consumos entrando num processo recessivo do qual não conseguem sair, mesmo com abundância de créditos a juros até negativos, como os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Os países emergentes como a China e a Índia procuraram seguir caminhos semelhantes ao do Brasil, conseguindo minimizar os efeitos negativos das quedas das demandas de suas exportações. Usaram os seus gigantescos mercados internos potenciais para compensar a queda no exterior, colhendo resultados mais interessantes, mantendo os projetos de investimentos públicos e privados.
O excesso de dólares e outras moedas acabam provocando um fluxo de recursos para alguns países considerados com melhores perspectivas, como o Brasil. Mas valorizam as moedas locais, o que acabam provocando um aumento de suas importações, gastos no exterior, e desestímulos para suas atividades exportadoras. No caso brasileiro, conseguiu-se sustentar as exportações porque ocorreu uma melhoria dos preços dos produtos que se exportam, como minérios e agropecuários, onde já começa a se registram um desaquecimento.
A medida tomada pelo FED, criticada quase em todo o mundo, ao lado da perda dos democratas nas recentes eleições, ameaça tornar precocemente Barack Obama um “lame duck”, ou presidente sem mais poderes, apesar das esperanças que nele se depositava quando de sua eleição. Lula da Silva continuou a crescer em prestígio popular, conseguindo eleger a sua candidata para a sucessão. Isto ajuda a manter os consumidores e empresários otimistas, principalmente com a intensificação dos investimentos voltados para a exploração do pré-sal, apesar do pessimismo disseminado pela mídia.
Tudo isto apoia a tese de que a confiança é fundamental para a economia, e que somente a política monetária ou fiscal ajuda, mas não é suficiente para ativar a economia, para manterem elevadas taxas de crescimento, que ocorrem entre os países emergentes.