Humildade Para Reconhecer Que Não Sabemos Nada
16 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: Irã dos dias atuais, o Iraque e a Mesopotâmia, o Ocidente não conhece o Oriente, Rússia e sua Sibéria | 2 Comentários »
Ainda que tenhamos uma ideia superficial da realidade de alguns países de longas histórias, culturas importantes, relevância no cenário internacional, e outras suas características marcantes, somos induzidos a gigantescos equívocos, em parte por uma mídia engajada na disseminação de inverdades.
Esquecemos que o Iraque é herdeira da antiga Mesopotâmia, que teve a sua estupenda Babilônia com seus jardins suspensos, país donde poucos resquícios eu tive a oportunidade de conhecer numa memorável exposição realizada há tempos no Museu do Oriente Médio, em Paris. Foram humilhados por anos por tropas de ocupação, recentemente, formados de coitados comandados por aqueles que deveriam ser submetidos ao Tribunal de Haia.
Representação dos jardins suspensos da Babilónia, como imaginados por Martin Heemskerck.
Minha filha visita atualmente o Irã, de onde me relata pela internet e pelo telefone uma admirável hospitalidade do seu povo, que a levou a empreender a viagem que me preocupava, onde as mulheres se comportam como se estivesse em Istambul, na Turquia, vestindo calças jeans. Isto me traz a memória que aquele país é a herdeira do fabuloso Império Persa, hoje transformado num lamentável inferno a ser destruído, instigado por parte da mídia que atende a alguns interesses distorcidos. Ela, que cavalgou pelos desertos da Jordânia, acha que as condições que hoje encontra são superiores às daquele país.
Minha limitada experiência com a Rússia não me permite fazer uma correta noção do frio de Moscou, ainda que muitas vezes relatado por um auxiliar brasileiro do nosso escritório, hoje um respeitável economista num banco brasileiro de grande prestígio. Ele me informava sobre a sua infância vivida naquela cidade, quando as aulas eram suspensas nos invernos rigorosos, os canos de água ficavam congelados, e as urinas dos adolescentes chegavam ao chão como pedrinhas de gelo. O máximo de frio que passei, por pouco tempo, foi pelo menos 20 graus numa base aérea do Alasca ou no festival do gelo em Hokaido.
O impressionante relato de Teruyo Nogami, da filmagem de Dersu Uzala, dirigido por Akira Kurosawa, por todo um longo inverno siberiano, até numa tomada noturna com a temperatura de 40 graus abaixo de zero, faz-me dar mais valor àquele filme a que assisti muito emocionado.
Sempre pensei que os carrapatos do tipo conhecido como pólvora, invisíveis, mas extremamente incômodos na virilha por baixo das calças, era uma experiência tropical terrível porque passei na Amazônia. Não é que ela me relata algo parecido na Sibéria com estas pragas, bem com banheiros malcheirosos iguais aos que encontrei nos garimpos e outros confins deste Brasil?
Tive o privilégio de viajar por muitos países do mundo, até as suas regiões mais afastadas, estudando um pouco das suas histórias. Ainda assim, tenho que reconhecer que são sei nada e tenho que continuar aprendendo muito, consciente que nada observado pontualmente pode ser generalizado. Só deixei de considerar outros povos que vivem de forma diferente dos nossos, como bárbaros.
Caro Paulo,
Realmente aquela cena de Derzu Uzala que se perde durante o entardecer e sem pestanejar um instante fica procurando palhas para poder realizar uma proteção (E que o companheiro, não estava entendendo), sabendo que se não conseguir em pouco tempo morreria congelado, é impressionante.
Um caçador que sabendo do poder da natureza, toma as ações necessárias quase como automaticamente e não perdendo um tempo sequer para ficar explicando. Uma ação pura de sobrevivência.
Abraços
Frank Honjo
Caro Frank Honjo,
Tenho para mim que este filme Derzu Ozala foi um dos que mais me impressionou e a descrição de Teruyo Nogami em À Espera do Tempo – Filmando com Kurosawa, informando sobre as condições em que foi filmado, acaba valorizando este trabalho que exigiu sacrifício imensos numa Sibéria hostil. Mas Kurosawa exigia que fosse filmado nas condições reais em que se desenrolou a história.
Paulo Yokota