O Problema da Tecnologia do Trem Rápido Chinês
22 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Trem Rápido | Tags: a discussão sobre o desenvolvimento de tecnologias, artigo do Wall Street Journal, reclamações de alguns fornecedores
Um detalhado artigo da jornalista Norihiko Shirouzu, do Wall Street Journal, reproduzido no Valor Econômico de hoje, além de tratar da tecnologia chinesa de trem rápido, levanta outros problemas de absorção de tecnologias estrangeiras, que estamos discutindo neste site em alguns artigos postados. Os chineses estão implantando ferrovias de trem rápido numa velocidade assustadora, e informam que contam hoje com tecnologias que diferem daquelas que adquiriram de estrangeiros, como a da Kawasaki Heary, Siemens, Alstom e Bombardier. Informam que pretendem chegar a mais de 15.000 quilômetros até 2020, com trens que já superam a 400 quilômetros horários.
Os grandes grupos estrangeiros, para abocanharem parte do mercado chinês, transferiram partes de suas tecnologias e normalmente são diplomáticos nas reclamações de uso inadequado de seus conhecimentos, pois sabem que a China continuará sendo um grande mercado no futuro. O artigo do Wall Street Journal procurou obter as versões de todos os lados, sendo que a Kawasaki Heary explicita suas reclamações, principalmente porque os chineses se tornam concorrentes importantes nos terceiros mercados.
Não há dúvidas que os chineses aperfeiçoaram as tecnologias que adquiriram, pois as velocidades atuais são substancialmente superiores às anteriores, bem como seus custos são menores. Há declarações claras de alguns chineses que “subiram nos ombros” dos seus fornecedores, o que vem acontecendo em diversos setores. As experiências das empresas brasileiras instaladas na China mostram que elas acabam produzindo produtos similares aos desenvolvidos no Brasil, sem dar muita confiança aos autores originais da tecnologia. O artigo em questão informa que este tipo de problema ocorreu também no Japão, no pós-guerra, como nos outros chamados Tigres Asiáticos. Há, portanto, que se tomar as cautelas necessárias se empresas estrangeiras desejam negociar com os chineses, que continuarão neste tipo de processo, até porque a sua cultura é bastante anarquista (no bom sentido), não respeitando as autoridades.
O fato concreto é que os grandes grupos internacionais continuam fascinados com o crescimento da economia chinesa, e desejam ser seus parceiros, mesmo correndo alguns riscos. E mesmo com as reclamações que podem ser justas, o fato concreto é quem faz acaba desenvolvendo uma tecnologia, pois não se trata somente do trem em si, como a construção da ferrovia e todo o conjunto de sistemas para a sua operação, que apresentam condições locais que diferem em cada país.
A experiência brasileira, quando construía uma apreciável quantidade de grandes usinas hidroelétricas, é que a tecnologia do setor sofreu um grande desenvolvimento, chegando a ser de ponta em todo o mundo. Mesmo que existam patentes a serem respeitadas, alternativas acabarão sendo encontradas, e a única possibilidade de se manter na ponta é com a contínua pesquisa que a mantenha na vanguarda do conhecimento.