Reflexões Sobre os Gênios Populares e os Intelectuais
10 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: intelectuais e seus pessimismos, lições da psicologia, sabedorias populares e seus otimismos, “dismal science”
O sábio Joãozinho Trinta já tinha sintetizado que “intelectual é que gosta de miséria”. Lula da Silva, um presidente operário, sem curso superior, foi capaz de, com o seu carisma, fazer com que o povo brasileiro mantivesse o seu consumo na recente crise para preservar o seu emprego. Ele superou em prestígio popular os intelectuais que possuíam dezenas de diplomas “doctor honoris causa”, mostrando que a população tem uma inteligência coletiva. Só isto bastaria para ficar com a massa, fugindo dos “pensadores” que preferem “curtir uma fossa”.
Acompanhando o recente noticiário internacional fica-se com a impressão de que a maioria dos líderes mundiais está confusa, tendo até proposta da volta do padrão ouro. Jornalistas de todo o mundo acabam sendo parciais, destacando as notícias desastrosas, dando pouca importância aos heróicos esforços feitos pelo povo, principalmente pelos mais modestos, para superar as naturais limitações impostas pela vida. Apesar dos contínuos prenúncios dos profetas do apocalipse, o mundo continua melhorando de padrão de vida, na distribuição universal da renda, de eficiência tecnológica, obrigando os chamados “desenvolvidos” a caírem na realidade, enquanto emergentes como “besouros que não poderiam voar” conseguem obter crescimentos impressionantes. Graças à mobilidade social, os que tinham posições mais modestas estão virando consumidores, enquanto muitos que tinham privilégios curtem a sua decadência ou vivem como vampiros sugando o sangue alheio.
Os centros dinâmicos mundiais passaram a ser dos chineses, hindus e brasileiros, entre os povos de maiores dimensões territoriais, mas também dos coreanos, vietnamitas e dezenas de outros emergentes. Os desenvolvidos, como os escandinavos, norte-americanos, europeus e japoneses, parecem ter entrado num ciclo de canibalismo consumindo suas próprias entranhas, como aconteceu ao longo da história com muitos povos que passaram por suas fases de ascensão, apogeu e queda. O mundo não vai acabar, mas convém estar plugado nos emergentes, que devem se proteger dos especuladores financeiros e seus agentes, verdadeiros parasitas dos trabalhos da massa dos que se dedicam à produção.
Que continuem os “desenvolvidos” com seus elevados graus de suicídios, que mostram que não é somente a riqueza que traz a felicidade humana. Os meus colegas economistas pseudointelectuais já deveriam ter aprendido da psicologia que um clima otimista ajuda a superar muitos problemas provocando verdadeiros milagres, e o pessimismo coletivo aprofunda as dificuldades, não gera a confiança no futuro, indispensável para o investimento físico e a criação do emprego.
Não basta inundar o mundo com liquidez financeira e acelerar os fantásticos fluxos internacionais de recursos só para proveitos pessoais. As bolhas só beneficiam os operadores financeiros, com riscos que não são capazes de calcular, apesar dos sofisticados modelos matemáticos ou econométricos. Parece necessária a humildade com as limitações da análise acadêmica, bem como dos instrumentos de política econômica. Que haja consciência do “dismal science”, ou a melancólica ciência que é a economia, como o professor Delfim Netto identificou ter origem em Thomas Carlyle já em meados do século XIX.
A comunicação social, com todos os seus riscos, parece de importância fundamental para a superação do atual estado depressivo no chamado mundo desenvolvido, que continuará a ter a sua importância, ainda que esteja na sua fase descendente. Parecem ser algumas das lições que podem ser retiradas da atual guerra, que se generalizou, deixando de ser cambial para ter retroagido para um aumento do protecionismo comercial, com prejuízo para todos. Como a libra esterlina que caiu em desuso, o mesmo poderá acontecer com o dólar norte-americano, mas o mundo não sentirá a sua falta.
Os seres humanos continuam criativos, vão acabar encontrando formas de combinar a iniciativa produtora com a alegria de viver com liberdade.