Sobre a Ascensão e Declínios das Cidades e Regiões
15 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: estudos sociológicos, mobilidade geográfica, um fenômeno universal
Um notável professor de sociologia da FEA – Universidade de São Paulo, professor Heraldo Barbuy, nos ensinava sobre os estudos sociológicos das ascensões e declínios de regiões, inclusive dentro das grandes metrópoles. Havia uma tendência de um centro dinâmico, depois uma faixa com a formação de áreas decadentes, cercada por uma área em ascensão, até chegar à periferia. Um artigo publicado no The New York Times e reproduzido no suplemento da Folha de S.Paulo, do jornalista Edward Wong sobre Jili, na Província de Zhejiang, na China, nos leva a reflexões sobre o assunto.
Jili, segundo o artigo, teria sido a região onde se originou a produção da seda há cerca de 4.000 a.C., sendo o sinônimo de seda de boa qualidade na Dinastia Qing, com produção manual, quando vestia os imperadores da China. Passou por um longo período de prosperidade, inclusive no áureo da Rota da Seda. Com o seu declínio provocado pela produção da seda, inclusive industrial em outras localidades, hoje, os jovens da região procuram emigrar na procura de trabalhos nas regiões mais dinâmicas, restando uma pequena indústria não competitiva na cidade.
Rota da Seda: as estradas estão indicadas em vermelho e a rota na água em azul
Este tipo de fenômeno da mobilidade geográfica das atividades econômicas é universal. Até mesmo no Brasil, algumas cidades que foram prósperas como centros dinâmicos da produção agrícola hoje passam por acentuados declínios, redução de sua população, com seus jovens procurando as grandes metrópoles ou novas regiões agropecuárias. As que não encontraram atividades para substituir as antigas, deixam uma lamentável impressão de abandono.
Mesmo nas metrópoles como São Paulo, nota-se uma grande mobilidade geográfica, com o velho centro deixando de ser a região mais importante, cercada por áreas como a cracolândia, enquanto novas regiões dinâmicas passam por construções de edifícios comerciais e residências de grande luxo. Vez por outra, regiões são recuperadas, como em Nova Iorque, tanto no seu downtown como no midtown, quando sua economia está em prosperidade, ganhando novas funções como no Soho. Vila Madalena em São Paulo tenta copiar este caminho.
Algumas cidades são capazes de preservar suas marcas históricas mais importantes como Londres e Paris. Outras vão alterando substancialmente seus bairros como em Tóquio ou Xangai, arrasando suas construções mais populares para dar lugar a luxuosos e gigantescos edifícios. Todas passam por transformações dinâmicas para se ajustar à evolução do tempo, ainda que deixando sentimentos de saudades para os mais conservadores.
Algumas cidades são capazes de manter seus ícones, com elevados custos de manutenção, tombando o que é mais expressivo de épocas de sua história. Outras são objetos da especulação imobiliária, ficando irreconhecíveis depois de algumas décadas, até com tombamentos que não fazem sentido.
Mas, olhando para frente, um mínimo de um plano diretor para cidades de regiões poderiam dar um pouco mais de racionalidade para estas mudanças inevitáveis.