Tentando Entender o Conflito Entre as Coreias
23 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: notícias internacionais, problemas no Norte, sucessão, tensão permanente | 2 Comentários »
Todos os jornais e sites noticiam os lamentáveis reinícios dos conflitos entre a Coreia do Norte e do Sul, com o uso de artilharias do Norte sobre uma ilha do Sul que já provocaram sacrifícios de vidas, bem como danos físicos a muitos, provocando retaliações do Sul. As mais importantes potências mundiais estão solicitando calma para não ocorrer uma escalada perigosa para uma guerra aberta. Estive recentemente em Panmunjon, na chamada Zona Desmilitarizada que separa os dois países, sentindo a tensão existente entre as partes, com armas voltadas uns contra outros. Nunca houve um tratado de paz, e as duas partes continuam numa guerra de verdade.
Estes conflitos ocorrem num particular momento crítico em que o Norte passa por grandes dificuldades econômicas, mas insiste em manter um agressivo programa nuclear, confirmado por um cientista que visitou as instalações onde se processam os enriquecimentos de urânio, em quantidade superior para seu uso pacífico. Levanta-se a suspeita que esta perigosa jogada pode fazer parte de uma tentativa de negociar uma ajuda substancial internacional, ainda que não haja a menor simpatia para tanto.
O atual líder autoritário que herdou a sua posição do seu pai, que tudo indica está muito adoecido, processa a sucessão para o seu filho, que pode encontrar resistências depois de longos períodos de grande sacrifício. O esquema de sua sustentação interna pode estar se deteriorando, mas é difícil de ser avaliado do exterior.
Todos sabem que a Coreia do Norte só pode viver com o suporte da China, tendo no passado contado com o da Rússia, no tempo da guerra fria. A do Sul conta com o suporte dos Estados Unidos, cujas tropas estão estacionadas em seus territórios. Ao mesmo tempo, os foguetes que os coreanos do norte dispõem possuem alcance para atingir o Japão, que fica muito próximo geograficamente.
As beligerantes coreias e seus vizinhos China e Japão
Já houve incidentes entre as duas partes no passado que envolveu mortes, e apesar dos esforços que se fazem para a redução das tensões, o atual conflito ocorre numa região sensível para toda a Ásia, num momento economicamente difícil para muitos países do mundo.
É costumeiro, quando se acumulam dificuldades internas, que problemas externos sejam enfatizados ou dramatizados, na tentativa de provocar uma aglutinação interna, com intensa propaganda política, principalmente nestes regimes autoritários. Tudo indica que num primeiro momento vai se tentar resolver os problemas de forma regional, ainda que isto não seja fácil com a crescente redução do poder militar norte-americano, com os desgastes sofridos no Iraque e no Afeganistão.
A China, recentemente visitada pelo atual líder da Coreia do Norte, acompanhado do seu filho, situa-se cada vez mais como o fiel da balança, mesmo com as críticas que vem recebendo, sobre a sua política cambial e comercial, em diversos fóruns internacionais. A única coisa clara é que mais este conflito em nada ajuda a resolver os problemas econômicos, ainda que todos tenham que aumentar novamente os seus investimentos em segurança externa, como desejam os mais radicais.
Acho que são paises grandes se confrontando por causa de duas coreiaszinhas, com certeza se o Rei Salomão estivesse vivo , teria resolvido o problema.
Caro Sidinei,
Agradeço o seu comentário que respeito. A Ásia é uma região hoje estratégica em todo o mundo, e a solução salomônica de dividir as duas Coreias não funcionou. Ainda que pequenas do ponto de vista geográfico, são importantes do ponto de vista político, não podem ser ignoradas, tanto que continua sendo o palco dos confrontos deste o fim da Segunda Guerra Mundial.
Uma é hoje, praticamente, uma potência atômica apesar de suas dificuldades econômicas, e outra é uma potência tecnológica respeitável.
Nunca houve um tratado de paz, e o que se mantem é um armistício, com a suspensão dos fogos, sustentado por alguns países. Esperava-se, depois da queda do Muro de Berlim, que fosse possível uma unificação, mas seus custos são muito maiores, e ninguem se dispõe a arcar com eles.
Paulo Yokota