Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ukiyo-e de Coleção Europeia Exposta em Tóquio

16 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: coleção de Hamburgo em Tóquio, o que é bom é universal, ukiyo-e de Utagawa e Hiroshige

Um excelente artigo publicado pela jornalista Yoko Hakuhara no The Japan Times informa sobre a impressionante exposição das gravuras ukiyo-e da coleção do Museum for Art and Craft Hamburgo, da Alemanha. Está sendo realizada no Ota Memorial Museum of Art de Tóquio, expondo 237 peças selecionadas de uma coleção de 5.000 existentes em Hamburgo. Ukiyo-e, segundo a jornalista, é o que melhor explica a base budista desta gravura em madeira, que literalmente significa “arte do mundo flutuante”, dentro do conceito do transitório e passageiro daquela religião ou filosofia.

A exposição apresenta gravuras, esboços, as matrizes de madeira das gravuras de artistas japoneses consagrados universalmente como Utamaro Kitagawa e Hiroshige Utagawa, que foram colecionados por Justus Brinckmann, fundador do museu alemão. Sabe-se que a Ásia e, especialmente o Japão, despertava vivo interesse na Europa no começo do século XX, levando muitos colecionadores a adquirirem trabalhos de artistas consagrados, como estes dois que são considerados ícones deste tipo de arte.

Utamaro

Gravura de Utamaro Kitagawa que refleta a efêmera beleza das mulheres de Edo

A gravura, reproduzida neste artigo de Hakuhara, é excepcionalmente feliz, pois reflete a beleza efêmera das mulheres de Edo, antigo nome de Tóquio, mostrando-as como elas estivessem na produção de gravuras, que é uma ficção, pois eram atividades de homens. Utamaro era um especialista em figuras femininas, mostrando as mulheres com sua beleza, inclusive das vestimentas, mas principalmente dos gestos. A efemeridade, presente em todos os seus trabalhos, é uma marca profunda da cultura japonesa, com forte influência budista.

Tudo que ficou consagrado do ukiyo-e reflete esta transitoriedade que ficou permanentemente gravada nestes trabalhos, como um contraste que é outra marca da cultura japonesa. As visões fugazes obtidas num relance como de fotografias oportunas, são perpetuadas nestes trabalhos, que envolvem muito do artesanal, ainda pouco valorizado em países novos como das Américas.

O trabalho de Hiroshigue concentra-se nas paisagens, como as 100 vistas de Edo que se tornaram famosas, bem como das viagens que fez do sul para a nova capital japonesa. Numa época em que ainda não existia a fotografia, ele era capaz de captar os exatos instantes, fugazes, para deixar perpetuado nos seus trabalhos.

Também destas visões diferentes do oriente e do ocidente podem nascer um intercâmbio cultural interessante entre o velho mundo asiático como o novo americano, que aos poucos vão se conhecendo.