Adaptação das Empresas Japonesas no Mundo Globalizado
9 de dezembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Empresas | Tags: comportamento no mundo globalizado, empresas japonesas no exterior, estrangeiros nas empresas japonesas
Mostrando o quanto as empresas japonesas e o Japão não estavam preparados para o processo de globalização das economias, apesar de atuarem há décadas no exterior, um artigo do Financial Times, escrito pela Michiyo Nakamoto, acaba de ser publicado no jornal econômico japonês Nikkei noticiando sobre contratação de empregados estrangeiros. Em condições normais, o assunto não merecia ser pautado, mas como o processo ainda é uma novidade tardia naquele país, que ainda se mantém bastante isolado como um arquipélago, ele acaba sendo notícia. Certamente, o mesmo problema não acontece nas economias desenvolvidas com o mesmo grau, como na dos Estados Unidos, Inglaterra ou França, ainda que qualquer crise aprofunde os sentimentos nacionais, de forma lamentável.
O artigo informa que empresas japonesas, com critérios variados, procuram incorporar funcionários estrangeiros. Espera-se que comecem com os já residentes no Japão, que trabalham como temporários, pois já passaram por um período de adaptação, possuindo experiências internacionais, ainda que mais idosos em média, acabando com alguns preconceitos injustificáveis. Mesmos os funcionários estrangeiros nas subsidiárias das empresas japonesas continuam com a impressão que não recebem as mesmas oportunidades de ascensão dentro das mesmas, quando comparados com os japoneses.
Algumas empresas desejam funcionários estrangeiros qualificados que tenham o domínio do idioma japonês. Outros se satisfazem com o inglês, que vem sendo mais utilizado nas operações internacionais. Muitas desejam executivos treinados em mercados externos, principalmente emergentes, onde pretendem ampliar suas operações. Mas a grande pergunta que deveriam formular é: “por que muitos estrangeiros adequados receiam trabalhar ou não se sentem atraídas pelas empresas japonesas, ainda que elas possuam boas imagens internacionalmente?”
Parece que existem diversas respostas, todas complexas: 1) muitos dos sistemas e processos, inclusive administrativos das empresas japonesas, não são os mesmos de outras empresas estrangeiras; 2) muitos sentem que não possuem as mesmas oportunidades de ascensão dos colegas japoneses; 3) sentem que existem grupos japoneses que os marginalizam, considerando-os inferiores; 4) existem grandes barreiras linguísticas e culturais; 5) os critérios de remuneração ao longo da carreira são inadequados para os estrangeiros; 6) dão exagerada importância à performance coletiva, não reconhecendo talentos individuais etc.
As empresas japonesas estão reconhecendo que precisam das contribuições dos funcionários e técnicos estrangeiros que tenham experiências onde os japoneses são carentes, sendo que preparam alguns para atuar no exterior, por um curto espaço de tempo. Para estabelecerem conexões locais relevantes, eles necessitam de maior tempo, além do completo domínio do idioma local, ou precisam da colaboração de pessoal local, sem nenhum resquício de preconceito. Se elas necessitam de tais habilidades, precisam estar dispostas a proporcionar as remunerações adequadas, com as mesmas oportunidades de ascensão nas suas carreiras no nível mundial, sem nenhuma sombra de desconsideração que acumularam ao longo do tempo, e que se tornaram culturais de um arquipélago. É difícil, mas precisam absorver que “gaijin” e japoneses são iguais, e em alguns casos superiores as suas atuais qualificações, para as tarefas que hoje necessitam executar.
Muitas empresas japonesas, tanto as que atuam no exterior como as que trabalham voltadas ao mercado interno do Japão, estão atingidas pela globalização, e não conseguem se isolar dela sem contraírem suas atividades. As cifras de empregados estrangeiros mencionados no artigo são insignificantes ainda, e muitas empresas se tornarão mais importantes no exterior que no Japão. Nada mais natural que contar com maior número de dirigentes e empregados estrangeiros, se desejarem continuar competitivas.
Existem muitas qualidades dos japoneses e atrativos no Japão, mas é preciso reconhecer também os dos estrangeiros no mundo globalizado, senão o Japão não continuaria estagnado como há décadas. É preciso que os japoneses reconheçam que algumas economias nasceram e se desenvolveram voltadas para o exterior, até porque não contavam com o mercado interno, que não é o caso do Japão.
Assim, nada mais lógico, se pretendem expandir no mundo, que absorvem mais estrangeiros, ao mesmo tempo em que os recursos humanos japoneses possam competir em empregos nas empresas estrangeiras. Como tenderá a acontecer se possível com menor fricção, e se resistirem com maiores dificuldades.