Atalho Tecnológico Chinês
20 de dezembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Tecnologia | Tags: absorção chinesa da tecnologia estrangeira, atração do gigantesco mercado, concorrência no exterior, tecnologia do trem rápido
Um interessante artigo do jornalista John Gapper, do Financial Times, publicado na Folha de S.Paulo, apresenta um bom resumo do atalho tecnológico chinês, como vem sendo divulgado por este site. Como observamos, todos ficam impressionados, inclusive este jornalista inglês, quando usam os novos trens rápidos chineses, que estão sendo implantados com uma velocidade impressionante. Somente a Kawasaki Heavy reclama que sua tecnologia foi utilizada com pequenos aperfeiçoamentos introduzidos pelos chineses, pois os demais fornecedores como a General Eletric, Bombardier, Siemens e Alstom preferem se calar publicamente, diante da possibilidade conseguir ainda algumas vantagens dos chineses.
O fato concreto é que os chineses passam a competir no mercado internacional com pequenos aperfeiçoamentos efetuados em cima da tecnologia que lhes foi transferida pelos grupos estrangeiros, deixando de ser utilizada somente na China. Inclusive em grandes projetos nos Estados Unidos, num entendimento consorciado, que retira a força de uma reclamação internacional.
Trem rápido chinês, que bateu recorde de velocidade
O caso do trem rápido é o mais evidente, mas todos os grupos estrangeiros que se instalaram na China em outros setores, em parcerias com os chineses, foram obrigados a abrir seus processos tecnológicos, que foram transferidos para empresas locais que, com mínimas modificações, acabam produzindo os mesmos produtos. Com isto, os chineses apresentam um rápido desenvolvimento tecnológico, utilizando-os como atalhos. É verdade que possuem recursos humanos e organizações para absorver estas tecnologias e efetuar o mínimo de aperfeiçoamentos. Todos temem explicitar suas reclamações pela utilização de suas propriedades intelectuais com receio de retaliações ou deixarem de gozar do gigantesco mercado chinês, além de colocar parte da produção no exterior, utilizando os baixos custos da mão de obra daquele país.
É verdade que todos os processos de desenvolvimento tecnológico no mundo foram semelhantes, mas num ritmo mais lento. No pós-guerra, os baratos e populares produtos japoneses surgiram no mercado internacional. Depois foram os coreanos e taiwaneses. Agora são os chineses, e com o tempo aparecerão de outros países asiáticos, que ainda não ganharam expressão.
As regras da Organização Mundial de Comércio (OMC) evitam estes abusos de propriedades intelectuais indevidos. Mas, isoladamente, as empresas geradoras de tecnologias e patentes não são capazes de conseguir resultados rápidos e eficientes. A China tira partido da dimensão do seu mercado interno, e dos arranjos que podem conseguir no exterior, e de sua elevada capacidade de investimentos e financiamentos. No fundo, admite-se que o mundo não seria o mesmo sem a China.
Ao lado deste processo é preciso admitir que a China, como a Índia, vem ampliando substancialmente seus investimentos próprios em pesquisa e desenvolvimento, com uma agressividade que impressiona todos os analistas. Aos demais países, emergentes como o Brasil, resta priorizar alguns setores onde os seus desenvolvimentos tecnológicos podem ser competitivos, usando as vantagens de condições específicas com as quais contam. Efetuando o mesmo em parceria com os chineses, continuam correndo o risco de serem surpreendidos com resultados mais rápidos na China.