Músicos Brasileiros Internacionais
6 de dezembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais | Tags: carreiras internacionais, diferenças de profissionais maduros e os jovens, presenças no Japão
É na música que se sente o impacto da idade de forma mais forte. Ouvir os sons de alguns jovens que encostam seus carros nos cruzamentos do tráfego de São Paulo chega a nos deixar confusos. Seus alto-falantes estão com os decibéis máximos, chegam a tremer os nossos veículos. Não há dúvidas que eles estarão mais surdos que Beethoven no final de suas vidas. Assisti à apresentação de um jovem brasileiro que está, ainda no início de sua carreira, fazendo sucesso no exterior. Sua banda tinha uma bateria tão barulhenta que desequilibrava o resto do conjunto, e saí desanimado do suplício, pensando estar deslocado neste mundo.
Mas hoje tive o privilégio de ter a alma lavada, pois assisti a um estupendo concerto de César Camargo Mariano, este atuante pianista, compositor e arranjador brasileiro e internacional, que depois de uma longa temporada no exterior apresentou-se em São Paulo. Em alguns números, foi acompanhado por outro veterano internacional, Arismar do Espírito Santo. E nos dias precedentes por Teo Cardoso e Ulisses Rocha. São monstros sagrados, que tocam pelo mundo, inclusive com Sadao Watanabe, nos Estados Unidos e no Japão.
Cesar Camargo Mariano, Arismar do Espírito Santo e Sadao Watanabe
César Camargo Mariano e Arismar do Espírito Santo não precisam de partituras, nem de um repertório pré-estabelecido. São músicos natos, criam na hora quando necessário, com improvisos como do jazz. Composições próprias e arranjos de outros monstros sagrados da música erudita e popular, como Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Steve Wonder, Johnny Mandel e muitos outros. Somente um bom piano e um contrabaixo, não precisam do apoio da parafernália que os jovens utilizam para fazerem barulhos ensurdecedores.
Pianista exímio, talento puro com arranjos monumentais deixa a todos extasiados. César Camargo Mariano lava a nossa alma, pois, como ele mesmo comenta, os compositores como Johnny Mandel e Steve Wonder, mesmo sendo internacionais, parecem com os brasileiros, em toda a sua criatividade.
Se há uma marca brasileira que se destaca no mundo é a da música, da melhor qualidade, nascida da miscigenação de raças e culturas, num país tropical, descontraído, que sabe viver da melhor forma possível, trabalhando duro, mas não ficando estressado.
Qualquer pessoa que tem o privilégio de assistir a um concerto deste músico que nos orgulha se sente transformado, sentindo um prazer que se apodera de todo o ser, corpo e alma. Este reconhecimento não é só dos brasileiros, mas dos melhores músicos de todo o mundo. Algo como Antonio Carlos Jobim, que encantava até Frank Sinatra.
É difícil dizer o que é World Music ou o que é a boa música brasileira, fazendo com que tantos músicos brasileiros trabalhem em todo o mundo, com grande sucesso. Muitos, no exterior, ouvem músicas brasileiras sem saber que são nossas, de nossos compositores, arranjos brasileiros, confundindo-se com o que há de melhor no mundo. E a música é um dos melhores instrumentos de comunicação universal, fazendo todos se sentirem bem.
As autoridades e empresários brasileiros precisam estar conscientes que esta realidade deve ser aproveitada para a promoção da imagem do Brasil no exterior, inclusive para atividades políticas e comerciais. Pois todos aspiram se sentir bem e não precisamos das pressões da força para cultivar bons relacionamentos.