O Mundo em Acentuadas Mudanças
6 de dezembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: as percepções de certa confusão, evoluções deveriam ser estimulantes, os sentimentos de nostalgias
No mundo no qual vivemos é que fica mais evidente o sentimento filosófico do budismo da transitoriedade e efemeridade de nossas vidas. Estas mudanças que deveriam gerar ambientes estimulantes com as coisas novas que estamos descobrindo e experimentando estão sendo superadas, lamentavelmente, por uma mídia mundial presa aos sentimentos saudosistas dos privilégios que estão sendo derrubados. Angelo Ishii, no seu artigo mensal do Diário de Tóquio, publicado na Folha de S.Paulo, reflete parte deste drama, mostrando a discussão da disparidade social que se acentua na atual literatura japonesa, referindo-se ao que se processa na morna classe média nipônica, que deixa de lado os recordes mundiais de investimentos em pesquisa e desenvolvimento do Japão, que devem superar parte das dificuldades por que passam.
Os problemas enfrentados pelos Estados Unidos, de um governo e economia enfraquecidos, atingidos visceralmente pelas revelações do WikiLeaks, deixam a nação líder mundial nua. Os mais experientes sabem que todos os detalhes divulgados não podem culpar o site, e são usuais nas comunicações diplomáticas, mas quando ficam publicamente expostas criam constrangimentos, obrigando os norte-americanos a se humilharem nas suas solicitações de desculpas no exterior. O grave parece a fragilidade do sistema de sigilo, com vazamentos maciços, que continuarão sendo veiculados pela mídia ávida de escândalos que aumentam as suas audiências.
Angelo Ishii e Julian Assange, criador do WikiLeaks
Rei morto, rei posto. Se alguns estão sendo superados, outros estão assumindo as posições de liderança, sendo evidente que os países emergentes estão aumentando o seu poder mundial, sendo que somente os asiáticos representam mais de 60% da população mundial. O melhor conhecimento de quem são, suas histórias, suas culturas, suas inovações tecnológicas parecem de grande importância, neste mundo que está mudando a uma velocidade assustadora. Mas, naturalmente, os lamentos sobre a decadência continuam dominando os grandes veículos atuais da conhecida mídia mundial, pois as dos grandes países emergentes não são tão conhecidas, apesar de suas tiragens astronômicas, como as chinesas.
Até os jovens continuam sendo contaminados por estas distorções. Os astros internacionais, por não encontrem mercado suficiente nos países chamados desenvolvidos ,aumentam suas excursões para países como o Brasil, vivendo ainda das glórias passadas. O mesmo acontece até com os relacionados com a música clássica, com o Metropolitan Opera de Nova Iorque efetuando transmissões diretas para milhares de locais em todo o mundo, em sistemas digitais de alta definição.
As inovações tecnológicas nas comunicações mundiais enfatizaram a realidade da aldeia global. Só que os novos atores principais são diferentes, chineses, indianos, brasileiros, que ainda não estão conseguindo que suas problemáticas sejam discutidas por uma elite distorcida. Joãozinho Trinta afirmava, com razão, que “só intelectuais gostam da pobreza”. Quando Lula da Silva, um estadista sem curso universitário, consegue reduzir a fome, melhorar a distribuição de renda, fazer a sua sucessora, sair com níveis recordes de prestígio popular, muitos continuam atribuindo somente a sua capacidade de comunicação populista.
Vamos ter a humildade para estudar por que os chineses conseguem um desenvolvimento tão acelerado, como os hindus mantêm por mais de 30 anos um crescimento econômico superior a 6% ao ano, como um país como o Brasil se torna um importante abastecedor mundo de alimentos. Como vivem estes países considerados pobres, evidentemente com seus problemas, mas também com suas alegrias.
O mundo está mudando, e temos que acompanhá-lo.