Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Toshiba Inicia Estudos Para a Produção de Semicondutores

3 de dezembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Tecnologia | Tags: anúncio do Nikkei, início dos estudos modestos, participação da VBC, produção de semicondutores no Brasil

De forma muito cautelosa, quase arrastada pelas pressões, finalmente a Toshiba anunciou a assinatura de um memorando de entendimento para início dos estudos para a modesta produção de semicondutores no Brasil, que foi anunciado pelo jornal japonês Nikkei. Quando o governo brasileiro optou pelo uso da tecnologia digital de alta definição dos japoneses na televisão brasileira, o ministro de Comunicações local pressionou no sentido da instalação de uma fábrica de semicondutores dos japoneses no Brasil, uma velha aspiração. No entanto, as empresas japonesas sempre resistiram às estas pressões, alegando que o mercado internacional está com capacidade ociosa. No máximo, se comprometiam a estudar o assunto, o que vem sendo arrastado por um longo período.

Isto revela uma incapacidade japonesa de aproveitar as oportunidades políticas que lhes são oferecidas, prendendo-se somente aos aspectos da viabilidade econômica com estudos técnicos de escalões modestos. É mais que evidente que esta tecnologia já adotada em alguns países sul-americanos pela ação diplomática brasileira, e é uma questão de prestígio, pois venceu as pretensões norte-americanas e europeias. O fato concreto é que isto não parece se transformar em vantagens para os produtores japoneses, que não estão sendo capazes de oferecer equipamentos em condições competitivas, sendo superados por outros produtores asiáticos.

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O empreendimento modesto, algo em torno de somente US$ 4 milhões, será efetuado como um de alto risco, na região de Campinas, no Estado de São Paulo. A Toshiba desenhará este semicondutor, que não tem uma expressão maior, podendo ser utilizado como microchips em cartões de crédito, não representando inovação nenhuma, pois isto já é usual até no Brasil. Trata-se, portando, de algo simbólico, e conta com uma modesta participação de 10% da VBC – uma empresa que conta com a participação dos grupos Votoratim e Camargo Correa.

É difícil compreender esta falta de determinação das empresas japonesas, pois todos sabem que o Brasil não será competitivo na produção de semicondutores, por ora, quando comparados com os gigantescos projetos asiáticos, como os que estão em operação em Taiwan.

Eles deveriam estar preparados para abocanhar uma parcela significativa dos equipamentos voltados para o sistema digital de alta definição dos televisores, bem como produtos de consumo final, onde o mercado parece fortemente inclinado para outros produtores asiáticos.

Tudo isto aparenta uma comédia de erros, onde a forma substitui a substância. Os japoneses que são mestres no kabuki deveriam entender facilmente que estas representações só possuem importância teatral. Se desejam estar presentes num mercado emergente de elevada potencialidade e simpático aos japoneses, e não hostis como outros emergentes, deveriam, com a ajuda de suas autoridades, se apresentar com mais determinaçõão, expressando suas disposições para as novas autoridades que estão assumindo no Brasil, e que não são tão ingênuas como aparentam.

Já deveriam ter aprendido que a “malandragem” brasileira mostra uma grande flexibilidade para superar, com grande jogo de cintura e pragmatismo, os aparentes impasses que possam surgir.